Um dia desses comentei com uns amigos sobre uma antiga loja de roupas onde meu pai comprava seus ternos, que ele chamava pejorativamente de "farda de bancário": A Ducal.
Esta loja tinha uma de suas filiais na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, bem próximo do antigo Hotel Danúbio, a meio caminho entre a Avenida Paulista e o centro antigo de São Paulo.
A Ducal era uma loja voltada para um público classe média "remediada", e isso era fácil perceber pela qualidade das roupas que vendia: nada muito sofisticado, mas que tinha um caimento razoável. Estica daqui, ajeita de lá, dá uma puxada na manga, até que ficava apresentável. E quando meu pai, bancário de profissão, envergava seus ternos da Ducal, "até parecia gente", como brincava meu avô, ao vê-lo engomadinho dentro da "fatiota".
Também lembro de meu pai vestido a caráter para o trabalho… seus ternos eram sempre azuis, pretos ou cinza, e na minha opinião pareciam todos iguais. Acho que, na Ducal, não vendiam de outras cores! Não me lembro bem de que tecido eram, mas tenho certeza de que, mesmo sendo peças de vestuário "populares", ainda assim eram bem melhores do que os pavorosos ternos de microfibra que hoje existem aos montes no mercado, com caimento e acabamento duvidoso.
Mas curioso mesmo eram suas camisas, que tinham colarinhos pontudos enormes, e eram quase sempre feitas de um tecido chamado "Tergal", que, segundo diziam na época, "não amarrota nem encolhe". Uma jóia sempre à venda nas lojas Ducal.
E por falar em terno, meu pai tinha um terno "especial", de tecido tropical inglês, que me parece que era o que de melhor havia, àquela época, para se fazer um terno. Cinza, sóbrio e bem cortado, só saía do armário em datas especiais. Esse terno era peça de um alfaiate italiano que, por muitos anos, trabalhou no Bixiga: Victor Casinelli. O sujeito sabia transformar três metros de pano em obras de arte do vestuário. Quando foi tirar as medidas, meu pai levou-me junto, e recordo que fiquei admirado com a habilidade do experiente alfaiate: estica a fita, dobra o pano, pegou uma espécie de giz azulzinho, risca daqui, de lá… em alguns minutos estava pronta a apuração das medidas, e eu duvidei que desse vai e vem da fita surgisse um terno de verdade.
Mas, dias depois, estava lá, feito sob medida era mesmo outra coisa, caimento impecável.
Fico, então, imaginando onde estão os alfaiates paulistanos, profissão que está desaparecendo aos poucos, e que resiste somente no trabalho de tradicionalíssimos camiseiros e alfaiates que, embora com clientela fiel, não estão deixando sucessores à altura. Uma pena, pois como dizia meu pai, "terno bom dura a vida toda", e prova disso é que, até hoje, possuo seu terno de tropical inglês em bom estado, como uma peça de recordação daqueles dias felizes em que aprendi que "linha & agulha são pura arte".
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