Voltando do Grupo Escolar Visconde Itauna…
Nos tempos em que não tínhamos o Estatuto da Criança, menores de idade podiam trabalhar. Não lembro quanto que ganhava por mês, mas trabalhando na Torrefação e Moagem Café Jambo, Rua Silva Bueno, 2258, eu também colaborava no orçamento da família. A Dona Salime Meireles (sírio-libanesa), esposa do Sr. Antonio Meireles (português), em vida foi uma heroína, ao mesmo tempo em que respondia pela torrefação, fazia tamancos de madeira.
Trabalhei nesta micro-empresa, sendo a primeira vez na vida que falei em um telefone, 1957 e 1958. Aprendi a empacotar café, pesar, serviços de office-boy, enfim, despertei para o mundo do trabalho. Na época, tinha 12 anos de idade. Era um período no trabalho, outro na escola, retornando do Grupo Escolar Visconde de Itauna – Ipiranga-SP, com mais alguns colegas de classe, e ao chegar à travessa da Rua Lima e Silva, olho para o chão e vejo uma papelada, os outros colegas não viram nada.
Entre boletos de pagamentos, cheques e dinheiro vivo não recordo os valores, mas quando abri o pacote, tinha lá uma boa quantia. Os colegas queriam que dividíssemos a grana achada. Achei melhor não dividir, aquilo que achara não me pertencia, mas não foi fácil a caminhada até a torrefação na companhia deles. Queriam porque queriam dividir. Chegando à Torrefação e Moagem Café Jambo, conversei com o Rachid Meireles, filho da Dona Salime e mostrei para ele o que tinha achado na rua.
De pronto, ele abriu a pasta e achou o telefone do escritório de contabilidade. Fez contato com alguém responsável pelo escritório de contabilidade e fomos lá entregar. Após a conversa do Rachid com o dono do escritório, recebi CR$ 200 (duzentos cruzeiros) e com promessa de receber mais CR$ 200 um mês depois. Que recebi um mês depois.
Agradeceram-me por entregar os pertences, eu não tinha noção dos valores achados, enfim, era uma soma considerável. Como parte da gratificação, mandei fazer um terno, isto é, meu pai autorizou e fui com o meu tio Valentim Tangerino no "Pedrão Alfaiate", Rua Comandante Taylor – Sacomã-SP, tirar as medidas e encomendar. Senti-me a criança mais feliz da vida quando recebi o diploma do 4º ano primário, ainda mais vestindo um terno novo, o primeiro da vida, apesar de que o terno era de calça curta.
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