Sonho de criança

Clesio, como sempre, vou aproveitando as crônicas e histórias de vocês para dar meu parecer ou então escrever algo ocorrido comigo no meu querido Tatuapé relacionado ao tema de vocês. Como diziam, a maioria dos palestrantes da minha época nas apresentações na minha área de Telecom: aproveitando o gancho e “blá blá blá”… 
 
Meu comentário é exatamente sobre nossos sonhos de criança. Meus ídolos e sonhos giravam em torno de três cantores; Presley, Paul Anka e Neil Sedaka. A minha voz era de taquara rachada, e como cantor nem pensar, mas pelo menos gostaria de tocar guitarra. Olha no violão não sai do “din din don”, ficando essa frustração de garoto. Apesar que, quando chegamos em Sampa, na década de 50, não era como hoje que você pode fazer teste de “optidão” que na avaliação indica a carreira a ser seguida. 
 
Assim que a nossa família se assentou, papai foi trabalhar na Vigor (Guarda Livros), mamãe costureira, o mais velho Antonio Carlos office-boy, o Plínio, como tinha um problema na mão direita, entregava terno para a tinturaria que ficava em frente de casa. O Paulo, quando chegou nos dez anos de idade, trabalhou no Cine São Luiz, com um cesto nos ombros vendendo guloseimas nos intervalos dos filmes. Eu, como era coroinha na Igreja Cristo Rei e estudava no Colégio Fernão Dias, que ficava na esquina da Maria Eugenia com a Tuiuti, o Vigário Padre Germano conversou com a mamãe e fiquei morando na Igreja, fazendo o trabalho como Sacristão e ganhava lá meus trocados. 
 
Quando completei 14 anos tirei a minha carteira de menor fazendo teste em um banco onde comecei a trabalhar, tendo que iniciar na sua matriz, que ficava em Osasco. Durante um ano pegando o bonde na Celso Garcia, um ônibus no Anhangabaú para chegar no trabalho. Assim que comecei a trabalhar pensando em ser bancário, eis que necessitavam de um boy no Departamento de Telecom, para onde fui encaminhado, e de banco mesmo não fiquei entendendo nada, mas sim tudo relacionado a telecomunicações, que foi a minha profissão por mais de quarenta anos. 
 
Começando pela telegrafia (Código Morse), telex, centrais de telex, telefonia, PABXs, fax, copiadoras, correio eletrônico, e por aí a fora. Com aptidão ou sem aptidão, acredito que dentro, a minha fé, nosso pai me encaminhou para essa profissão, que nunca havia pensado em minha vida, totalmente desconhecido por mim, e que deu certo. Obrigado meu pai do céu. Nos dias de hoje existem inúmeros cursos para tudo que se possa imaginar, só não trabalhando mesmo quem não quer, ou então engajar-se em um movimento que reivindica uma serie de benefícios, ou seja, esperando que caia algo do céu… Se a voz ajudasse, cantaria…
 
Luzes da Ribalta (Charle Chaplin)
 
Vidas que se acabam a sorrir
Luzes que se apagam, nada mais
É sonhar em vão tentar aos outros iludir
Se o que se foi pra nós
Não voltará jamais
Para que chorar o que passou
Lamentar perdidas ilusões
Se o ideal que sempre nos acalentou
Renascerá em outros corações…