Falar de São Paulo é falar em gigantismo sempre. Pode ser de criatividade, trabalho (sem dúvida), estresse, correria ilimitada, ônibus sempre apinhado. Mas também é falar naquele imenso desejo de abrir espaços para que a vontade possa triunfar. Eu falo da vontade de partilhar saberes, curiosidades, amores, saudades e infinitos casos interessantes. Histórias da cidade, dos bairros, das ruas, das festas, das explosões de alegria pela vitória do time preferido. Casos de amizades duradouras, sinceras, que sobreviveram ao tempo. Histórias de amores perdidos. Outras de reencontro. Vidas que enfrentaram momentos conflitantes, como a ditadura, mas que também saborearam a democracia ainda em definição, participaram dos grandes movimentos, como as Diretas-já em 1984, embalados nos sonhos de uma sociedade mais justa. Movimentos sociais como o impeachment do Collor e a Paulista abrindo espaços e borbulhando de busca da ética e da moral e abrigando calorosamente uma multidão sem fim.<br><br>Casos do mercado da Cantareira, das pizzas especialmente do Braz e do Bixiga. São Paulo dos botecos, das linhas de trem, do metrô com um piano disposto a ser tocado por qualquer pessoa. São Paulo do samba da vela, das vilas, da Ipiranga com a São João e sua doce poesia. Do Canto Gregoriano, dos museus, dos cinemas, dos restaurantes e das padarias. São Paulo da divina Vila Madalena, dos bairros de tradição operária. E sempre com o espaço garantido para o voluntariado. São Paulo do "CVV, boa noite!" onde o acolhimento é certo. Lá está um ouvido e um coração para as piores angústias. Terra das enormes tragédias, de milhares de pessoas reduzidas a uma tenebrosa situação de rua, mas alguém lhes dá alguma roupa e o que comer. <br><br>Terra do encontro entre indígenas e jesuítas, de segundo lar para os nordestinos que em muito ajudaram a edificar a megalópole. E que também acolhe cidadãos de todo e qualquer canto do planeta. Cidade onde árabe conversa com judeu na 25 de março com relativa tranquilidade e o Bom Retiro se tornou um espaço também de coreanos, paraguaios e bolivianos. Terra do Memorial do Imigrante, dos grandes concertos. Balés e Theatro Municipal. Lembra do Mappin? Tem a confeitaria Di Cunto na Mooca (orra, meu!), mas tem também a Santa Tereza. Saudades da Botica ao Veado de Ouro.<br><br>Saudades da Casa Fretin no centro velho. E a Catedral da Sé não está longe da Federação Espírita e muito menos dos templos budistas da Liberdade. A mesma Liberdade que a cada ano, no dia 6 de agosto, para as 8h15 da manhã para rezar pelos mortos da bomba de Hiroshima e pela paz mundial. E todos convivem, cada qual no seu espaço. As feiras da Praça da República anunciaram a contracultura dos anos 60 a céu aberto. Cidade de grandes e inesquecíveis encontros… E no encontro do saopaulominhacidade.com.br nasceram amizades sinceras, abraços, pizzas, fotos. Uma aproximação madura, única, intensa em que um leitor torce pelo sucesso do outro, pergunta, sugere, aguarda resposta, relê o texto, manda notícias, troca e-mails. Leitura obrigatória de todos os dias. <br><br>Eu jamais imaginei que essa mídia pudesse ter uma importância e um significado tão incisivo na minha vida nesses últimos anos. Obrigada a toda a equipe do SPMC, a todos os colegas escritores. Acredito que ninguém tenha a verdadeira dimensão da importância da existência desse site. Até porque a autoestima de nós, paulistas e paulistanos, mudou. Falamos e sentimos a cidade de outra forma. Com mais orgulho, com saudades do passado e não nostalgia, com muito mais afeto e entendimento do humano que ali habita. Histórias contadas em diferentes capítulos, com corações de construções também diferentes, mas pulsantes, vibrantes.<br><br>Conseguimos estudar a cidade em diversos ângulos. Conseguimos remontar, pelo menos, ao século XIX, final do Império, abolição da escravatura, República nascente e grande imigração. Viver o presente em grande estilo, conversando sobre as dificuldades, as paranoias e o deslumbramento sempre especial em viver em um dos lugares mais instigantes do planeta. E o principal: com profundo sentimento e respeito à memória da nossa gente.<br><br><br>E-mail: [email protected]