Semana Santa na Vila Mariana

Naquela época, a Semana Santa era a semana de jejum (meu avô ficava sem comer e nem se barbeava). Contrição, reflexão e muito medo, pois como criança que eu era, temia ver o “Senhor Morto” na Igreja Nossa Senhora da Saúde. Inclusive, lá os santos ficavam todos cobertos com panos roxos, dando uma impressão tétrica para o ambiente.<br><br>O padre falava em Latim e os pobres paroquianos nada entendiam daquela língua tão estranha, mas todos nós acompanhávamos os rituais. Era, para a criançada, uma farra, pois todos os vizinhos lá se encontravam para a devida procissão, e cada um com uma vela "abraçada" pelo papel crepom.<br><br>Conforme a procissão seguia, a vela balançava e lá se ia o papel. Então olhávamos e muitos da procissão se desconcentravam pelo fogaréu que tinha nas mãos. Enquanto a "Verônica" rezava com a voz embargada diante de tanto sofrimento, nós e as crianças, nós prestávamos mais atenção nos fogareiros nas mãos dos adultos em pânico.<br><br>Depois que a procissão dava voltas pelas ruas, voltávamos para a Igreja e de lá os vizinhos se reuniam e íamos comer pizza na Padaria SP, que ficava na Rua Domingos de Morais e, diga-se de passagem, a pizza de lá era demais. Para as crianças, além da pizza, vinha o guaraná “caçulinha” bem gelado.<br><br>Tudo era perfeito, até o Latim do padre, o choro da Verônica, a voz grave da pessoa mais bem quista da igreja e que, nessa ocasião, puxava a ladainha e ficava cheia de atenção para não tropeçar nas palavras; essa pessoa se chamava Seu Lucas, homem correto, honesto e com muita religiosidade e fé.<br><br>Não sei se consegui descrever corretamente, mas que era legal ah! Isso era mesmo.<br><br>