Sexta-feira Santa, dia 18 de abril de 2013. Não fosse pela tradicional bacalhoada eu sequer teria percebido. Mas fiquei pensando, lembrando de como já foi na época da minha adolescência e juventude lá na Parada Inglesa, nos idos da década de 60 e início da década de 70. O pároco da Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, o saudoso padre Júlio Martins Serra, já no início da quaresma, reunia-se com seus auxiliares e traçava o itinerário da procissão que celebraria a paixão de Cristo. O caminho que seria percorrido, as paradas das 15 estações da “Via Crucis”, quem explicaria ao povo o que representavam cada uma das 15 estações e o horário de início da procissão.
Nos domingos que antecediam a Sexta-feira Santa, uns dois ou três domingos anteriores, em todas as missas, os fiéis eram informados do trajeto, das paradas e do horário do início da procissão, de tal maneira que no dia certo todos já estavam sobejamente informados sobre tudo que envolvia esta demonstração de fé.
No dia da celebração, na hora exata que fora aprazada, as matracas que antecediam a procissão anunciavam o seu início, a imagem de Jesus carregando a cruz era a primeira a sair da igreja seguida por uma imensa multidão que formava a procissão. Era um mar de gente, rezando, entoando cânticos religiosos e portando velas. Esta multidão de gente era acompanhada por outra multidão que se postava ao longo das calçadas das ruas por onde passaria a procissão. Alguns destes espectadores juntavam-se à procissão, aumentado ainda mais seus participantes. Não era preciso avisar o Detran, a CET, ou a PM, ou o que quer que fosse, tudo era organizado só pela igreja, por seu pároco e auxiliares.
As matracas anunciavam a chegada da multidão e os automóveis que estivessem circulando nas ruas por onde ela passaria paravam, desligavam os faróis e pacientemente esperavam a rua desocupar. Os bares e padarias do trajeto fechavam suas portas durante a passagem, em sinal de respeito a esta manifestação religiosa. As casas das ruas do trajeto, durante a passagem da multidão, apagavam suas luzes externas e deixavam que apenas o lume das velas iluminasse o cortejo.
Tudo na mais perfeita ordem, da saída até o retorno à igreja. Era lindo, uma profunda demonstração coletiva de fé. De uma fé que hoje em dia anda muito em falta. E não digo nem da fé religiosa, mas da fé no próximo, na decência, na hombridade, no respeito ao próximo. Enfim, na fé de que vale a pena ter fé e seguir em frente. Que saudade do que acabei de contar daqueles tempos lá na Parada Inglesa, era muito bom, e olha que eu não sou religioso, nem mesmo posso dizer que seja cristão. Sou apenas um homem de fé.