Se eu pudesse voltar no tempo

Se eu pudesse voltar no tempo… Faria tudo de novo.

Moraria na Rua Guatemala, donde à noite via o brilho da lua, descendo na mata, que na época chamávamos de Grota. Até hoje, quando ouço “o luar cai sobre a mata, como uma chuva de prata”, me lembro desse lugar… Desceria a ladeira dentro de um tambor de óleo, pegaria emprestado o carrinho de rolimã do meu irmão e até apanharia da mãe, quando notasse meu vestido rasgado, por ter enganchado nas rodinhas (naquele tempo, menina não vestia calça). Quanto desperdício…

Faria meu primeiro ano escolar, com a Professora Iraní, numa salinha onde hoje é o final da Rua Bagdá. Depois iria para o Colégio Ângelo Mendes de Almeida, onde passei os melhores dias da minha vida.
Pela manhã e à tarde, iria com a minha tropa de oito irmãos comprar pão na venda do seu Carlos e Dona Cristina; nosso cachorro Brinde, levava a sacola na boca. Domingo era dia de comer queijo fresco. Parecia festa! E as Tubaínas… Ah, aqueles refrigerantes!

Na semana, iria com minha saudosa mãe a pé até o aeroporto de Congonhas levar o almoço para o meu pai que, com orgulho, trabalhava na Varig. Quando chegávamos lá, entrávamos num teco-teco caindo aos pedaços, e meu saudoso pai se regalava com a comidinha caseira. Na volta vínhamos caminhando pela estrada cheia de chácaras, onde hoje tem a favela Alba.

Consertaria meus sapatos com o seu Antônio, marido da dona Cecília. Compraria meus móveis na loja do Chafic, um turco legal, que carregava sua tropa de carneiros pela Rua Jamaica, onde hoje tem feira às quintas. Pediria ao guarda Alcides para me levar nos ombros quando a chuva inundasse o riozinho lá no risca faca. Pediria para a minha mãe deixar-me comprar bananas no Seu Domingos e, nos dias de culto, viríamos todos na carroceria do seu caminhão, junto com minha amiga Sonia, seu pai Jaime (Tiago) e sua mãe Benedita. Quantas saudades do seu quintal, sempre cheio de dálias. E o seu cafezinho vermelho, feito no fogão de barro, tão cheiroso…

E a chácara da tia B… Cheia de cerejas e ameixas, que hoje chamam de nêspera. E a japonesa que vendia verduras lá embaixo, onde hoje tem a Avenida Águas Espraiadas? Eu ia com tanto medo dela, pois nuca tinha visto um japonês na minha vida. E quando ela me entregava o maço de couves, eu saía numa disparada, que ganharia qualquer competição de atletismo! Lembro-me também da queda do avião, na mata da Ressaca, nossa! Tinha menos de oito anos e vi no céu brilhar uma luz tão forte, que hoje pensaria ser o fim do mundo!

Enfim, Vila Santa Catarina ficará na minha lembrança, como uma chama que não se apaga. Saudade sempre!

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