“Quando eu morrer, me enterrem na Lapinha: calça, culote, paletó e almofadinha…". O samba carioca refere-se, claro, a parte ímpar do bairro da Lapa, encimado pelos famosos arcos.
Na Lapa paulistana, entretanto, ninguém pensa em morrer. E explicoo porquê. Quem da Lapa não for e por ela passar com vagar, poderá verificar que se trata de um bairro absolutamente provinciano em flagrante contraste com seu comércio progressista. É que ali os moradores (e quem dali é, o é há várias décadas), em sua maioria, se conhecem mutuamente.
Já presenciei meu médico de confiança caminhar de seu consultório até sua residência, coisa de uns cinco quarteirões, e fazê-lo parando diversas vezes para conversar com seus vizinhos e amigos.
Não, não tive a felicidade de ser lapeano. No entanto, mantenho ali boas relações. É o caso das reuniões quinzenais do Conselho da Superintendência Regional da Associação Comercial-Distrital Lapa. Naquela entidade reúnem-se não só os costumeiros lojistas, mas também, leoninos, rotarianos, maçons, comunitaristas e outros abnegados da causa pública.
É de impressionar a união daquela comunidade em torno de seus interesses. E olhe que não se tratam de interesses eivados de clamor e emergência, haja vista que a região não possui edificações desconsentidas em áreas de risco. Qualquer discussão, como a simples instalação de um semáforo, por exemplo, já é motivo de densa mobilização popular.
Dizem que na Lapa é tão bom viver que os lapeanos não pensam em deixá-la (e à vida), tão cedo. Tanto que cantarolam aos quatro cantos: "Se eu morrer, me enterrem na Lapinha…".
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