Santo Amaro sempre foi uma região privilegiada em todos os setores: comercial, industrial, biodiversidade na fauna, na flora; tem a caixa d’água da cidade São Paulo; um turismo rico na represa de Guarapiranga; tem favelas e tem os condomínios milionários; enfim, aqui convive o maior e o menor, rico e pobre e um mix de culturas diversas.
No caso dos entretenimentos, Santo Amaro também foi o primeiro bairro a ter um autocine, o primeiro do Brasil, uma novidade para a época. Ficava na Av. Santo Amaro, em frente ao Banespa e do monumento “Borba Gato”. Foi aberto em 19 de Setembro de 1968 e sua inauguração foi em grande estilo, porque assistir a um filme de dentro de um carro era o máximo na época. Permaneceu ali até final dos anos 1970 e hoje, nesse mesmo local, se encontra o supermercado Pão de Açúcar.
Foi batizado de Auto cine Snob’s. Os filmes eram os mesmos que eram exibidos nos cinemas centrais da cidade, como Marabá, Ipiranga, Metro e outros, com a vantagem de não sair do carro, não pagar estacionamento e o garçom ainda trazia aos cinéfilos as bebidas e comidas.
Nessa época, Santo Amaro recebia muitos turistas, devido a Represa Velha de Santo Amaro, depois batizada de Guarapiranga. Esses locais tinham uma visitação grande, alguns as chamavam de rota do amor, assim como hoje é conhecida a Rodovia Raposo Tavares, pela grande quantidade de motéis. Talvez esse o motivo de tantos autocines, drive-in e salões de bailes, concentrando-se pela antiga Estrada de Santo Amaro, hoje Av. Washington Luiz, Av. Vitor Manzini, Av. De Pinedo, Av. Atlântica e outras de menor importância… Depois esse tipo de entretenimento espalhou-se em nossa região e se alastrou por toda a cidade.
No autocine, os carros paravam em filas para adentrar ao pátio e lá dentro ficavam ao lado dos alto falantes em forma de cogumelos, de onde se pediam comidas e bebidas, para acompanhar o filme. Os pedidos vinham em uma bandeja, que ficava enganchada no vidro do carro.
Como já dito, o autocine ficava na Avenida Santo Amaro, onde hoje existe o supermercado Pão de Açúcar, com entrada pela Rua Estilo Barroca, antiga Rua XV de Novembro. No início, a entrada era pela própria Av. Santo Amaro, mas como havia muita fila e atrapalhava o trânsito, foi transferida para a rua paralela.
Nessa época, ainda bem jovem, entrando nos dezoitos anos, passava todos os dias em frente, de ônibus. Aquela imagem chamava a atenção de todos e a vontade de entrar era grande, mas para quem não tinha carro, ficava só o desejo. Íamos em cinemas normais do próprio bairro.
Cheguei a ver grandes carros entrarem com várias pessoas, como a Kombi, por exemplo. Era uma oportunidade para mim, mas para quem não tinha amigo que tivesse um veículo e nem namorada, ficava difícil… Imaginava um dia ir a esse local.
Depois de alguns anos, em 1970 um novo autocine abriu em Santo Amaro, o “Moon Autocine” na Avenida Interlagos, esquina com a estrada de Campininha, atualmente Av. Sargento Geraldo Santana, que era maior que o Snob’s, com capacidade para mais de 300 carros – hoje é o Extra Supermercado e tem em frente a atual Universidade Ibirapuera. Infelizmente, durou pouco tempo, logo depois transformou se em motel.
Até que um dia, nesse mesmo ano, creio que um mês logo após a conquista brasileira do tricampeonato mundial, sai com um amigo e duas colegas. Resolvemos entrar para vermos como era. Havia campainhas para chamar os garçons, e os alto falantes podiam ser instalados dentro dos carros, para que os clientes controlassem o volume do som.
A capacidade do local era de aproximadamente 250 carros, a tela de projeção ficava fixada sobre uma parede feita de concreto armado em colunas, com a altura de uns quinze metros. A tela tinha uns dez metros de altura por vinte de comprimento. Era oferecido até um líquido especial para ser passado no para-brisa do carro, com o objetivo de evitar que os vidros ficassem embaçados. Foi boa essa experiência, entendi depois de algum tempo o porquê desse tipo de entretenimento durar pouco tempo.
No início, muitas famílias iam a esse local, porém muitos jovens, principalmente, usavam esse espaço para “namorar” de forma inconveniente. O local parecia que sofria de abalo sísmico, a maioria dos carros “tremia” muito, e isso fez com que as famílias se retirassem e não retornassem mais. Mesmo com lanterninhas mais rígidos, jogando farolete nos rostos dos ocupantes e dando broncas, não adiantava. Dessa forma a maioria transformou-se mesmo em drive-in. Hoje, quase em desuso pela grande maioria, proliferam motéis para todos os gostos e bolsos.