Rua Martiniano de Carvalho e meu primeiro amor

Rua Martiniano de Carvalho; vejam só como não devemos levar tão a sério a vida, pois a mesma é cíclica… Alguns com certeza contestarão tal afirmação, mas me antecipo a explicar minha posição diante da frase, mas antes tenho que iniciar puxando pela memória. Creio que o ano era 1970 ou 1971, não mais que isso.<br><br>A noite era quente e estrelada, horas antes, minha turma e eu já havíamos marcado que o tal bailinho seria na casa de um colega na Rua Conde de Porto Alegre, uma travessa da Rua Joaquim Nabuco, na parte do Brooklin Velho. Horário acertado, divisão das caronas, restava apenas os preparativos finais. Lembro que lá chegando o som alto em harmonia com a luz negra e a cuba libre dava um ar especial a pequena sala do sobrado em questão.<br><br>Entre uma música e outra me lembro da chegada de um garoto de pouca idade – naquela época não passava dos 17 anos; aliás, eu e a maioria das minhas amigas estávamos na faixa dos 15 anos. Ele se aproximou e em um gesto educado me convidou para dançar.<br><br>Apresentações, sorrisos e outras danças e, no final, trocas de endereços e telefones, pois estávamos longe dos e-mails de hoje. Munidos de guardanapos pegos sobre a mesa do salão, ambos escreveram seus endereços. O namorico foi breve, mas a paixão adolescente rendeu algumas lágrimas e dores de cotovelo. Devo confessar que até a bem pouco tempo atrás, tal<br>guardanapo já amarelado dividia espaço com outras recordações juvenis.<br><br>Passado tantos anos eis que recebo um convite para participar de uma seleção interessante durante todo este ano, para ser, no final, uma contadora de historia em uma associação, que tem como objetivo compartilhar a deliciosa tarefa de contar histórias às crianças e adolescentes em hospitais credenciados.<br><br>Imaginem: quase quarenta anos depois, lá estava eu novamente de posse de um pedaço de papel e não mais um guardanapo com tal endereço grafado – Rua Martiniano de Carvalho. Só que dessa vez a paixão não estaria voltada apenas a um garoto, mas a tantos meninos e meninas. Com a mesma alegria vivida naquele bailinho, juntos passamos quase duas horas no embalo de uma boa estória.<br><br>Entenderam porque não devemos levar a vida tão a sério, afinal pelo menos dessa vez, ela teve um final feliz.<br><br><br>E-mail: [email protected]<br>