Dando um giro pela cidade de São Paulo, me encontro na Praça da Sé, na década de 1970, apreciando o monumento da fé cristã, a Catedral de São Bento. Obra em estilo gótico, de beleza arquitetônica majestosa, sem igual em todas as Américas.
A praça da Sé ainda com seus antigos edifícios ao redor da catedral, tornou-se, posteriormente, com a praça Clóvis Beviláqua uma só praça, com sua estação de metrô, conservando sempre o Palácio da Justiça.
Vou andando perto do edifício da Caixa Econômica, no lado oposto da catedral, quando se aproxima um indivíduo que me força a parar.
Espaço altruísta, no pensamento diário, leva minhas indecisas reações ao extremo do que seria uma insípida irresponsabilidade, aparentemente inconsequente, porém, de uma força convertida em inabalável fé.
Vou recordar meus pensamentos naquela hora, totalmente absorto em preocupações domésticas, sem tempo a perder com um estranho.
As razões ponderadas que me assolam não são determinadas pela minha inexperiência, mas sim, por detectar, nas redundâncias calcadas no comportamento inequívoco de meu interlocutor, algo tenebroso, por demais astuto pra um indivíduo aparentemente, sem nenhuma escolaridade, mediana, que seja.
Mas não, deve haver algo nesse misterioso personagem que procura esconder, sem o cuidado necessário de camuflar um comportamento sequioso por encerrar nosso diálogo.
Por fim, não resistindo a tortuosa expectativa, resolvi expor minhas suspeitas sobre os trejeitos de seu rotundo físico, um exagero resultante de uma dieta a base de carboidrato, um físico abandonado totalmente aos prazeres de um bom prato.
– Qual a sua idade? – pergunto não esperando de pronto, uma resposta.
– Porque você quer saber?… será por causa da minha barriga?
Ao responder dessa forma trai, não só sua revolta com seu volume como um forte complexo com origens nebulosas que vou tentar descobrir.
Se a menção do ventre, por ele mesmo como defesa, na esteira de elevado índice de autocomiseração, se entende como eu estar lidando com um indivíduo problemático, completamente absorvido por recalques adquirido em vários pontos demonstrados num esquema perturbador.
Em dado momento, inesperadamente puxa de sua sacola a tiracolo, um revolver. Apontando pra mim, relutei quando explodi.
– Calma – reagi – só perguntei seu nome…
– Meu nome é René e não vou atirar em você…
– Então, pra que a arma…?
– Ela tem uma bala só… e vou fazer um jogo com você, vou rolar o tambor e você vai apontar na minha cabeça… quando eu disser “fogo”, você aperta o gatilho, se disparar, estarei morto e se não, faço o mesmo… na sua cabeça!
– Hei, que negócio é esse?
– Você nunca ouviu falar da “roleta russa”?
– Sim…sim… mas, aponte esse troço pra lá…
– Há… há… há… você tá se cagando de medo… Não ta vendo que essa arma é de brinquedo??