Renato Consorte

Três de Maio de l963. Lembro-me muito bem desse dia. Eu e meu irmão Fernando estávamos irresponsavelmente brincando na torre da Igreja Sta. Rita de Cássia, ainda em construção, quando o convair da Cruzeiro passou muito próximo de nós, já pegando fogo e fazendo um barulho ensurdecedor. Tudo estremeceu.

Nós ficamos paralisados, agarrados ao madeiramento que fazia parte da construção, observando, pasmos, a aeronave que fez uma curva à esquerda e caiu sobre as casas alguns poucos quarteirões à nossa frente. As labaredas provocadas pela explosão iluminaram todo o céu. Assistimos a tudo.

Descemos correndo da torre e fomos ao encontro do nosso pai, que era rádio telegrafista da Vasp. Nesse momento ele já estava saindo do antigo salão paroquial atraído pelo barulho. Contamos a ele o que havia acontecido e ele correu até um telefone próximo para avisar seus colegas do aeroporto sobre a localização do acidente e depois foi correndo até o local.

Lembro-me dele chegando em casa muitas horas depois todo sujo. Muitos anos mais tarde, em l995, eu e meu pai estávamos no Guarujá no restaurante Sobre as Ondas, na praia das Pitangueiras, quando encontramos com o Renato Consorte. Aproximamos-nos dele e contei sobre nossa "participação" no acidente.

Ficamos todos muito felizes por termos nos "encontrado mais uma vez". Batemos um bom papo e ele nos disse entre outras coisas, que pra ele tudo aquilo parecia ter sido um sonho, apesar de ter sido um dos poucos sobreviventes e ter ficado por muitos meses internado num hospital.

Em 26 de Janeiro 2009, soube que o Renato, renascido, Consorte, se foi. Quem sabe não renasceu em algum outro lugar…

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