Reabertura

Faltavam alguns minutos para as 13 horas de um dia qualquer de dezembro de 2008 quando resolvi almoçar um cheese salada e um cheese maionese na lanchonete do saudoso Seu Osvaldo.

Seguindo pela Costa Aguiar, percebi que não havia vagas disponíveis onde gosto de deixar o carro. Tive, então, que entrar na Bom Pastor à procura de um local ainda vago. Nisto, aproveitei para verificar o tamanho da fila que tradicionalmente se forma defronte ao estabelecimento citado. Foi aí que levei um enorme susto. Ao invés das pessoas, do costumeiro movimento que sempre há no local, enxerguei, incrédulo, restos de demolição e uma fria porta de aço semi-cerrada.

Ato contínuo, imaginei o que teria acontecido: alguma rede de fast-food deveria ter adquirido o ponto, e dentre em breve teríamos mais uma loja como qualquer outra da cidade; ou então o quarteirão seria demolido, dando lugar a um empreendimento nomeado "Bom Pastor Street", ou "Quality Home Ipiranga", ou qualquer outro nome que nada tenha a ver com nossa história.

Sabem como é, gato escaldado… Fui imaginando logo o que haveria de pior, já sentindo a aguda pontada da saudade. Mas, olhando com maior atenção (o farol logo atrás estava fechado, pude reduzir bastante a velocidade até que ele abrisse), percebi que a estrutura interna estava toda de pé, e o balcão parecia estar recebendo novo revestimento. Concluí, com alívio, que se tratava apenas de uma reforma.

Aí outro pensamento me veio: será que a loja – tão simbólica ao nosso bairro – será descaracterizada? Irão eliminar os famosos azulejos coloridos? Irão "modernizar" a loja, com eventual decréscimo de qualidade? Restava apenas aguardar.

Toda semana dava uma passada por lá, esperando a reinauguração. Quando finalmente esta se deu, ainda com a caçamba estacionada na calçada, atestei – com enorme felicidade – que nada havia mudado. Tudo estava como sempre foi. Apenas o balcão recebeu um trato, o teto uma pintura e o banheiro uma bela reforma. Nada em absoluto que retirasse a essência do local. E, é claro, os azulejos característicos foram mantidos. Quanto ao sanduíche, não sei se por efeito da nostalgia acumulada e da espera pela reabertura, parecia ainda melhor.

Neste momento percebi que, de fato, aquele endereço sempre será o da lanchonete do Seu Osvaldo. Não importa o que aconteça, afinal, estamos no Ipiranga. Talvez em outro bairro as tradições se percam, mas não aqui.

Assim, reaberta, com a qualidade de sempre, continuamos a ostentar este patrimônio. Uma bela foto do Seu Osvaldo foi colocada bem acima do local que costumava ficar enquanto trabalhava. Bela homenagem desta família que respeita sua história, a qual faz parte da história do Ipiranga e de São Paulo.

À família do Sr. Osvaldo, agora no comando da lanchonete, ofereço meus sinceros parabéns, agradecendo o respeito pela memória do bairro e, é claro, a qualidade do sanduíche.

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