Que tempo bom!

O ano era 1962. O ônibus da Empresa Reunidas saía da via Anhanguera e cortava rapidamente as ruas da Lapa em direção ao Bairro da Luz. Vínhamos do interior e chegávamos a São Paulo da garoa, terra do trabalho e das oportunidades.<br><br>Deixava para trás a tranquila Cidade de Lins, os amigos, as matinês do Cine São Sebastião com seus filmes de aventuras e seriados fantásticos e deixava também uma parte da minha infância.<br><br>Ficamos hospedados na residência de minha Tia Maria Ribeiro, no Edifício Visão, na Rua Japurá. Lembro-me que através da ampla janela da sala do apartamento, avistava a Praça da Bandeira com o teatro de alumínio em destaque; mais ao longe, as coberturas dos pontos de ônibus no Vale do Anhangabaú, chegando essa visão até a esquina da Av. São João e a Praça do Correio, onde havia um edifício com um grande painel de luzes no topo. Ali, à noite eram dadas as notícias do dia. Foi através desse painel que fiquei sabendo da morte de Marilyn Monroe.<br><br>Hoje tenho saudades do Bonde nº 5 que saía da Praça da Bandeira para o Bairro da Bela Vista (Bixiga), passando pelas Ruas Santo Antonio, Major Diogo e 13 de Maio, entre outras.<br><br>Tempo bom, das idas aos cinemas do centro como o Art Palácio, Marrocos, Paissandu, Ipiranga, Marabá, Metrô e República. Depois de ir ao cinema, comer na ‘Salada Paulista’, lanchar um Bauru no ‘Ponto Chic’ ou ainda descer até próximo à Rua Libero Badaró e saborear um gostoso Queijo quente no ‘Porquinho’.<br><br>Como diria um personagem da TV: "Que tempo bom, não volta mais, saudades que esse tempo trás."<br><br>Outra lembrança bem presente é da ‘Fazenda’, uma mercearia na Rua Maria Paula, quase na esquina com a Rua Santo Amaro. Lá se comprava todo tipo de frios e laticínios. A manteiga era retirada de um barril cheio de água e sal, nada de manteiga industrializada, essa era pura! Tempo bom do futebol no terreno da Rua São Domingos, do Cine Rex e sua grande sala, do Colégio Maria José na Rua Manuel Dutra e a televisão com seu maravilhoso branco e preto. A televisão era o divertimento diário. Quem não tinha o aparelho, ao invés de televisão via o televizinho, mas não perdia as séries como ‘Capitão 7’, ‘Fury’, ‘Lassie’, ‘Rin-Tin-Tin’, ‘Zorro’, ‘Ivanhoé’, ‘Guilherme Tell’, ‘Os 3 Patetas’, ‘Roy Rogers’ e ‘O Vigilante Rodoviário’. Por que tudo isso acabou? Fico me perguntando! <br> <br>Onde estão os heróis que não matavam?! Onde estão as crianças, que naquela época respeitavam a garbosa farda azul-marinho da Guarda Civil?<br><br>Cadê as sessões do Tom & Jerry aos domingos de manhã no Cine Metro? O que fizeram com as revistas em quadrinhos como ‘Cavaleiro-Negro’, ‘Flecha Ligeira’, ‘Don Chicote’, ‘Sobrinhos do Capitão’, o nosso ‘Jerônimo’ e o ‘moleque Saci’?<br><br>Hoje, só podemos vê-las em exposições ou Sebos de revistas ou então apenas suas capas em alguns sites especializados em Gibis antigos.<br><br>A TV e as revistas eram em branco e preto, mas os nossos sonhos eram bem coloridos. Quem viveu essa infância sabe do que falo. Falo das amizades sinceras, do amor puro, das brincadeiras sadias, falo de família. <br><br>Falo de uma época de ouro. Falo de saudades… Ah! Se houvesse uma máquina do tempo…<br>