Durante anos, passei pelo monumento Às Bandeiras, do Victor Brecheret, e pensava: “Que lugar excelente para soltar pipas!”. Sempre tinha vento. Observava sempre as birutas naturais, os grandes eucaliptos do Parque Ibirapuera, estavam sempre balançando. Nunca fui.
O que as pessoas iriam falar? É o lugar mais bonito e representativo da grande cidade que moramos. Um ponto turístico único, com um visual plástico fantástico. Atualmente, vivo soltando minhas piparodas lá.
Lembro de alguns fatos, como a intenção do autor no projeto inicial, em aproximar as pessoas de sua obra. Ele projetou um monumento com uma rampa lateral para as pessoas subirem na estátua, e andar no monumento no nível onde se apóia a grande canoa dos bandeirantes. Essa rampa não foi executada.
Mesmo assim, todo mundo da cidade quer subir no monumento, levando pitos dos guardas que cuidam do presente do Brecheret. Menos os estrangeiros. Eles só tiram milhares de fotos, nem pensando em subir na dignidade do monumento.
Engraçado que outro dia tinha até índio de cocar vendo a estátua. Acho que eram parentes.
Tem um paulista da época montando no cavalo da ala esquerda, olhando para trás, e um paulista montado no cavalo da ala direita, olhando para frente. Esse pessoal da esquerda parece mesmo que não se preocupa em olhar para frente…
Para ver os cavalos de Brecheret de perto, em 1956 visitamos as obras do monumento do Duque de Caxias, para um trabalho escolar do meu irmão quando estudávamos na Caetano de Campos. Era um grande tapume ocupando todo o quarteirão.
Meu tio Pedro convenceu o guarda deixar a gente entrar. Era uma tarde de domingo. O cavalão estava apoiado no chão, com a enorme espada do seu lado. O Cá levou a Kodak dele. O grande duque ainda estava desmontado do cavalo e desmontado dele próprio. Tiramos muitas fotos e, com seis anos, fiquei fã do Brecheret.
Numa festa no Jóquei Clube, não consegui tirar os olhos das paredes, são perfeições de um gênio que estão lá.
Semana passada, soltando minhas pipas, no puxa-empurra, um casal me pede o celular emprestado. Eles iam pichar o monumento com filmes vermelhos nas luzes da estátua. Conversamos, falei do Brecheret. Dei o meu cartão para eles. Não emprestei o meu celular.
Alguns dias depois, aparecem os filmes vermelhos nos holofotes. Pensei em protestar o protesto, tirar aquela droga. Mas não fiz nada. Não valia minha atenção.
E-mail: [email protected]