Poodle Sniff, alegria e saudades de nosso amiguinho

Quem nunca teve um animal de estimação, normalmente a maioria possuiu ou tem um cão, muitos bem tratados, outros nem tanto, e outros ainda tinham ou tem por simplesmente ter.

Sou de uma época, década de 1950 até anos de 1970, onde no nosso bairro, aqui na zona Sul, e creio que em toda cidade onde tudo era incipiente, nada existia de infraestrutura e onde todos tinham seu cachorro, gato e aves em seu quintal.

Mas, sem dúvida, o mais domesticado e mais companheiro sempre foi o cão e nosso bairro Jardim São Luiz e Vila das Belezas era impressionante a “cachorrada” nas ruas, em época do cio, então, era uma verdadeira procissão de cães machos atrás de uma fêmea e a farra era grande e a gritaria e curiosidade de todos era enorme, principalmente a molecada para verem a cena, alguns atiravam pedras para ver se o casal desengatava, o cão ia para um lado e a fêmea para outro e todos se divertiam.

Nada de cão com pedigree, pelo contrário, eram todos RND, ou seja, raça não definida ou, como queira, vira lata, uns bonitos outros nem tanto, mas a maioria perambulava pelas ruas o dia todo e comia o que aparecia, mas à noite eles sabiam ir para seus donos.

No mês de agosto, era normal vermos os caçadores de cachorros, as chamadas carrocinhas como chamávamos, era um caminhãozinho marrom da Prefeitura “zoonose”, tipo baú, o que hoje se chama de VUC, veículo urbano de carga, seus caçadores de uniforme marrom e laço nas mãos. Quando aparecia a carrocinha no bairro era uma correria de todos a recolher os cachorros e um avisando o outro da caçada e quando algum era aprisionado a choradeira era geral, principalmente quando se dizia que o animal iria virar sabão, depois de capturado no canil da Prefeitura, que em Santo Amaro era na Rua Darwin.

A partir dos anos 1980, com o crescimento do bairro, tudo asfaltado, trânsito, essas cenas terminaram e deu lugar ao novo estilo de criação de cães, agora mesmo alguns vira-latas são bem criados e prisioneiros de uma casa e até em apartamentos, mas o que predomina são os cães de raça com pedigree, onde o mais simples é o poodle seguido de yorkshire, schnauzer, pinscher e tantos outros, sem falar nos cães de tamanho maior.

E em nossa casa não foi diferente, nossa filha Cris, com aproximadamente 11 anos, quis um cãozinho, e lá vamos nós a procura de um em um pet shop perto de casa, chamado Cão Fiel, quando chegamos vimos uma gaiola com vários animaizinhos e escolhemos um que mais parecia uma bolinha de pelo, tipo novelo de lã, cor caramelo, mas acho que era mais branco, mas um olhou para nós com olhar de “me leva” e nossa filha logo o escolheu, foi amor à primeira vista, e pela expressão dele demos o nome de Sniff, pois tinha cara de chorão, pagamos e colocamos no carro e rumo para nossa casa.

A alegria era demais, muito abraço, beijo, aconchego e ele respondia a altura o carinho, com muitas lambidas, parecia que já nos conhecíamos, apesar de seus dois meses de vida.

Juntamente com ele foi adquirido cama, brinquedos, ração, e o colocamos em um local na lavanderia que já estava reservado para o mais novo elemento da família.

Nasceu em primeiro de dezembro de 1997 e desde então era só alegria, carinho para todos os lados, mimos, passeios, cuidados, carteirinha de vacinas, era do tipo pequeno, nunca passou de 5,0 kg, na fase adulta, peso inclusive máximo recomendado para aquele tipo.

O carinho por ele era geral de todos da família, todos queriam alimentá-lo, carregá-lo e passear com ele, para isso foi logo comprado a correia para esse evento.

Quanto à alimentação, teve fase que chegou a se alimentar com alimento humano, o que logo foi condenado pela veterinária, por motivo de saúde, para tristeza dele, mas compreendemos a orientação e daí só ração mesmo.

Em pouco tempo ele já distinguia quem era seu dono ou donos, quem chegava quem saia e reagia triste ou alegre conforme a ocasião, também demarcou seu espaço para suas necessidades e elegeu de quem gostava mais, gostava de brincar, estragar meias, tênis, sabia a hora de ir para a caminha à noite, percebia quando chegávamos, alertava quanto a um ruído estranho, alegrava-se quando chegávamos da rua, ficava triste quando saíamos, adivinhava quando nos preparávamos para sair, parece que sabia que quando estávamos trocando de roupa já saia de perto e ia para a sua cama.

Aprendeu a distinguir vozes, som de automóvel, caminhão de gás, caminhão do lixo e até quando passava uma carroça na época com o trotar do cavalo que o deixava nervoso e não parava de latir, para todos esses sons era motivo de sua brabeza, se por acaso estivéssemos na rua teria que segurá-lo firme, pois queria avançar.

Quanto a sua higiene, não conseguia entender como ele adquiria tanta pulga, mesmo com tanta limpeza do quintal e cuidados gerais, bastava ficar uma semana sem cuidar, pronto, já estava infestado de pulgas, o veterinário receitava remédio, “shampoo”, uns funcionavam outros não, interessante que quanto mais velho ficava menos pulga ele tinha.

Sempre teve muito espaço para brincar e correr, pois nosso quintal é relativamente grande, dentro de casa seus saltos no sofá eram constantes, na cama pulava com muita facilidade, sabia reclamar quando estava com fome e sede, adorava principalmente crianças e visitas em geral, pois era muito dócil.

Gostava de sair de carro, onde colocava a cabeça para fora, parecendo aspirar todo oxigênio do mundo com seus pelos e orelhas esvoaçantes ao ar.

De vez em quando aparecia uma doença, como dor de ouvido, alergia e vinha o corre-corre para o veterinário para curá-lo, mas isso é normal em animais e assim os anos foram passando e a nossa dependência a ele e vice-versa só aumentava.

Mas, como tudo na vida passa, depois dos dez anos de idade o nosso amiguinho já apresentava alguma deficiência em função da idade: os ataques de convulsão, que parece uma constante nesse tipo de cão, mas controlável com remédio de uso contínuo, a segunda coisa que notamos foi a falta de impulso para subir no sofá e na cama, mas continuava com outras atividades normais.

Aos 13 anos de idade, começava um novo problema com nosso amiguinho, notamos que ele começava a trombar com as paredes, portas e já não corria mais, quando tentava, batia em algo e isso piorava a cada mês, fazendo com que ele começasse a andar de cabeça baixa e devagar.

Levando ao veterinário constatou-se que a cegueira evoluía, mas ainda enxergava um pouco. A solução era operar, mas para isso tinha que esperar a cegueira completa que chegou, pela nossa experiência aos 15 anos, nem a comida na tigela enxergava, tínhamos que direcioná-lo ao prato de ração e de água e, para piorar, suas pernas já não sustentava o corpo, começava a cair a todo instante. A cirurgia era inviável economicamente e pela idade dele, mas para compensar cuidamos com todo amor, até o desfecho dessa vida de forma gradual, além de tudo, sofreu um pouco nosso amiguinho poodle.

Foi enterrado em um canto de nosso jardim, fazendo parte do conjunto que mais gostamos, que são as plantas, flores, onde ele ia lá às vezes cheirar.

Enfim, nos deixou com muitas saudades, um aperto no coração e muitas lágrimas de minha filha, que o chamou de filho de quatro patas, mesmo sendo bióloga e trabalhando com animais não se conformou com a perda do amiguinho.