Playcenter e a Casa dos Meninos: Tchau!

Em 1962, fundaram um internato no bairro, em um local que era anteriormente parte de um pequeno sítio da família Minamoto, que se mudou para a região em 1948, após estarem instalados na Chácara dos Padres, na Avenida João Dias, em Santo Amaro. Foram os pioneiros da Chácara Japonesa e saíram para o Jardim Brasília, para dar lugar ao laboratório Squibb, atualmente demolido para dar lugar a um conjunto imobiliário. <br><br>Este internato situava-se no alto do Jardim Maracanã, hoje parte do distrito do Jardim São Luiz, e recebeu o nome "Casa dos Meninos". Tinha acesso pela Rua Vasco da Gama, rua esta que mais tarde recebeu o nome do senhor Yoshimasa Minamoto, proprietário do sítio e da granja que os registros municipais grafaram o nome da rua como Yoshimara, e assim ficou, pois muitos moradores já tinham escrituras com o nome errado mesmo. <br><br>O internato era mantido por algumas senhoras paulistanas pela causa filantrópica. Naquela época não existiam tantas ONGs como hoje, de todo o tipo, onde todo mundo "salva" todo mundo. Os responsáveis pela Casa dos Meninos eram o casal Ademar e Luzia, que mantinham orgulhosamente todas as dependências com afinco. Os quartos das crianças eram por elas mesmas arrumados, estendendo os lençóis das camas, faziam a higiene pessoal e depois disso desciam para o café matinal, iniciando com oração e agradecendo o alimento diário. Somente o mais pesado da casa era feito por alguns voluntários, como por exemplo, cozinhar e arrumar o refeitório.<br><br>Nos fins de semana eles iam para suas casas, ou de algum parente que possuía a guarda do Juizado de Menores. O lugar para diversões da Casa dos Meninos era pequeno, tinha uma quadra onde se jogava vôlei, futebol e um pequeno parque com balanço, gangorra. Mas nada era mais esperado por esses garotos do que "os passaportes" de um parque maior, o Playcenter, que mandava gratuitamente, em um determinado dia da semana, para uso das entidades. Um ônibus partia repleto de crianças cantarolando que saiam sorridentes para se esbaldar no parque dos "brinquedos grandões", como diziam, rumo a Barra Funda. Cada adulto era responsável por meia dúzia de garotos e assim cada grupo se dirigia para determinado "brinquedo". A primeira vez que fiquei responsável por um determinado grupo, os meninos escolheram de saída a montanha russa.<br><br>Lá fomos nós, toda aquela algazarra de serelepes, pulando para cá pulando para lá. Era uma "bagunça organizada" e assim, com alegria, nos alojamos em um dos carros. Tinha que tê-los sempre no meu campo de visão, assim, sentei no fundo de um determinado carrinho. Ligaram e começou a movimentação e os meninos rindo, assoviando, e o carro subindo, mas de repente aquele negócio começou a descer em uma grande velocidade que o coração vinha à boca, havia um menino de nome Zico que agarrou a ferragem lateral com força descomunal e olhou para trás e disse:<br><br>"- Tio, nunca mais eu venho nesse negócio!"<br><br>Todos estavam assustados, quando o carro parou, estavam atônitos, pernas bambas, nada falavam. Ficaram silenciados por um bom tempo e, para completar, escolheram depois o trem…fantasma. Lá fomos nós, nos trilhos, caveiras descendo, gritos horripilantes, teias de aranha, todos, sem exceção, estavam de olhos fechados quando o bendito trem saiu do túnel, o medo era geral, inclusive o meu! Ganhavam sanduíches, pipocas, guloseimas, mas não paravam, queriam extravasar em outras atrações, que à época eram menos perigosas. À tardinha, o sol preguiçosamente se escondia no horizonte, então, tomávamos o rumo de casa, a Avenida Marginal ainda estava em construção, e, assim, o ônibus tomava a direção da zona sul pela Avenida Santo Amaro com um bando de passarinhos livres em suas imaginações, contando cada qual ao seu modo as aventuras do dia. Chegávamos bem à noitinha, todos estafados, e assim dormiam como e com os anjos!<br> <br>Um dia, a Casa dos Meninos desativou o internato, eles se despediram acenando a mãozinha, saindo pelo portão e dizendo: “Tchau!”. As viagens inesquecíveis acabaram e agora acabou o Parque de Diversões Playcenter, dos "brinquedos grandões". O portão se fechou: Tchau!<br><br><br>E-mail: [email protected]