Perdizes, meu bairro

Apesar de ser filha e neta de santamarense, só vim morar no bairro já moça, embora mais próximo do Brooklin do que do Largo Treze.Nasci em Santos, mas começo a ter memória a partir da casa que morava quando criança que ficava no bairro das Perdizes. Era um sobrado germinado nos dois lados. Ao vê-lo de frente parecia pequeno, mas quando adentrávamos percebíamos o quanto era belo.

Este sobrado ficava na Rua Apiacas, lembro que no lado oposto da rua na esquina havia uma venda de arquitetura antiga, aquelas com sacarias na porta. Móveis internos de madeira, escura, e chão quadriculado. Ficamos ali cerca de dois anos e nos mudamos para a Rua Iperoig que é a primeira paralela a Apiacas, lembro que era um prédio pequeno sem elevador, de arquitetura retilínea e com um solarium enorme que servia para lavar roupa.

Lembro que as mulheres, minha mãe fazia parte deste grupo, subiam com suas trouxas e filhos, enquanto papeavam. Nós as crianças se divertiam sobre as lajotas quentes. Era tão gostoso que lembro que na região não havia muitos prédios, aliás, creio que o nosso era precursor assim a paisagem era livre. Bairro criado sobre morros que para nós crianças custavam vencer as ladeiras acima, e dali tombos ladeira abaixo.

Iniciei minha alfabetização no Externato Santa Rosa de Lima, escola formada pelo Frei Vicente. Na época ainda jovem se preocupou em manter a comunidade unida não só na liturgia como no aprendizado e não vou esquecer das matines, assistidas no porão da Igreja que também era usada como salão de festa e reuniões de Pais. Neste salão também fiz o meu Jardim de Infância lá pelos idos de 1960.

Já no Pré-primário frequentei sala no edifício novo. O parquinho era lá encima no último andar do prédio. Lembro que o chão batido de terra levantava grande poeira e quando voltávamos à sala, estávamos suados e empoeirados, mas felizes. Lembro que nas aulas de arte tínhamos que bordar papelões, impresso neles legumes. Nós com agulha e linha tínhamos que acompanhar o contorno da figura.

Outro dia ao rever os guardados tão carinhosamente guardados por minha mãe, deparei com uma dessas cartelas impressa uma batata com linha marrom que me fez voltar no tempo. Até senti o cheiro da massinha sobre a mesinha de fórmica azul clara rodeada de pequenas cadeiras onde, eu e meus amiguinhos, reinávamos em arte e amor. Tudo isso graças ao nosso Frei Vicente homem de visão e amor com a sua comunidade.

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