Nas rodas de discussões de futebol predomina a polêmica sobre quem foi ou é o melhor jogador de todos os tempos, que na verdade não deveria ser chamado de jogador, mas sim de artista do futebol, ou simplesmente futebolista, apenas e tão somente.
Um jogo é um passatempo que pode ter o acaso com o resultado positivo ou negativo, já que depende da sorte ou de azar dos competidores. Enquanto que ter o domínio sobre uma esfera, trabalhar e cadenciar cada lance e, por fim, conduzir a bola ao gol é possível para todos os que estão em campo, mas com maestria, elegância e inteligência poucos tiveram ou têm a habilidade acima da média.
Assim como elegem o melhor disto ou daquilo, o rei de tal atividade, ou coisa que o valha, pretendo aqui registrar o que na minha humilde concepção e, segundo meu conhecimento sobre futebol, é um dos maiores artistas da bola que meus olhos puderam contemplar desfilando pelos gramados.
Antes, porém, vale ressaltar que minha paixão pela arte começou bem cedo, já nos anos 60, influenciado principalmente pelo meu avô paterno que apreciava um bom espetáculo. Desta forma, acompanho futebol desde minha tenra idade, mesmo que em meados daquela década sofresse como bom são-paulino por nunca ter sentido o gostinho de uma conquista. A fila era desoladora, enquanto torcedores de equipes paulistas contavam com ídolos e vibravam com Pelé, Coutinho e Pepe; Dudu e Ademir da Guia, Rivelino, entre outros, nós tricolores aguardávamos o “habite-se” do que seria o maior estádio particular do mundo. Isso ao menos amenizava o jejum de títulos e nos dava a esperança de um futuro promissor.
Obra concluída, finalmente podíamos sonhar com conquistas. Naquela época, o São Paulo já contava com o excepcional canhotinha de ouro, Gérson, e Toninho Guerreiro, artilheiro em série de campeonatos paulistas. Então, pude, após 13 anos, uma vida inteira de espera para um adolescente de 14 anos, soltar a voz e comemorar um título estadual, título esse muito importante naquele início dos anos 70. Até aquele momento, apenas saboreara o gostinho de uma conquista coletiva, quando então o Brasil sagrara-se tri mundial.
Antes mesmo da copa do México em 1970, já corria a fama de um brilhante uruguaio que, defendendo a camisa do Peñarol, acumulava títulos da Libertadores e do Mundial Interclubes, além de campeonatos uruguaios. Seu nome: Pedro Rocha, El Verdugo, admirado por Pelé, que em sua opinião era um dos cinco melhores jogadores do mundo.
Durante a disputa daquele mundial, Rocha contundido não integrou a temível seleção celeste olímpica na semifinal vencida pelo Brasil, cuja partida foi considerada por muitos como a vingança do Maracanã. Com ele presente talvez a história fosse outra. Talvez.
Em uma época em que o Brasil contava com artistas de alto desempenho, como os já citados Gérson, Pelé, Ademir da Guia, Rivelino e mais uma dezena de excepcionais futebolistas acima da média, Pedro Rocha esbanjava elegância, posicionava-se muito bem, era um exímio cabeceador, além de saber cobrar faltas com precisão.
Em 1971, Pedro Virgilio Rocha foi negociado com o São Paulo, permanecendo por seis anos. Enquanto esteve no Morumbi, El Verdugo, que mesclava a raça uruguaia e uma rara habilidade com a bola, ajudou o São Paulo a chegar a dois títulos estaduais, em 1971 e 1975 e, em 1977, ganhou o Campeonato Nacional Brasileiro.
Uma das primeiras oportunidades na qual pude ver, “in loco”, Pedro Rocha jogar aconteceu justamente na decisão do Campeonato Paulista de 1971. Naquela tarde, no lotado Morumbi, bastava o empate para o Tricolor conquistar o título pela segunda vez consecutiva. A equipe Alviverde era tida como superior. Todavia, em campo, El Verdugo e mais dez proporcionaram a alegria de milhares de são-paulinos ao bater o adversário por um gol do centroavante Toninho Guerreiro.
Essa partida pode não ter sido a mais brilhante do uruguaio, mas com certeza é a que considero inesquecível e permanece desde então na minha memória. Logo no primeiro ano, Rocha começou a escrever a sua história no clube do Morumbi. Mesmo em partidas de menor importância no contexto das disputas, ele mostrava suas qualidades encantando a todos, torcida, imprensa e até adversários.
Depois desse jogo outros tantos vieram, onde pude ver El Verdugo exibindo o seu melhor futebol. Eu tive o prazer de ter visto jogar. Pude ver um jogador que em campo, com bola nos pés, desfilava com elegância sobre o gramado. Controlando a esfera com classe, Pedro Rocha armava as jogadas de cabeça erguida, sem a bola, esbanjava a raça tipicamente uruguaia. Era senhor do meio-campo. Nas cobranças de falta, era mortal.
Nos seis anos em que Pedro Rocha esteve no Morumbi, pude ver um dos melhores camisas 10 que o Tricolor Paulista já teve, talvez ele tenha sido o maior até aquele período. O número de conquistas, na verdade, pode parecer pouco expressivo, mas o que importa mesmo é que, em todos os seus jogos com o manto sagrado, soube como poucos honrar as cores vermelha, branca e preta.
Fica aqui a homenagem de um apaixonado pelo futebol e de um Tricolor que traz na lembrança memoráveis passagens deste craque que, como poucos, encantou os amantes da arte da bola, que não pode ser esquecido, pois merece integrar a galeria dos grandes futebolistas.