Paulista, Fascinante Paulista

Aquela minha saída para mais um trabalho como office-boy prometia ser diferente. Era uma tarde ensolarada do outono de 1966. Embarquei num ônibus “Circular Avenidas”, da viação Santa Brígida que, por milagre, não estava lotado, e facilmente consegui um lugar junto a uma janela. Quase ao término da Avenida Angélica, o ônibus estava prestes a entrar naquela que, até então, eu só conhecia por meio de fotos que mexiam com minha curiosidade de adolescente: a Avenida Paulista. Finalmente, eu poderia ver e, quem sabe, sentir tudo o que eu já havia ouvido e visto em fotos.

O ônibus virou para a esquerda e lá estávamos naquela que foi, é e será sempre a jóia dos paulistanos. Como eu iria descer na Praça Osvaldo Cruz, pude percorrer a Paulista em toda sua extensão. Junto à janela, não desviei meu olhar um só momento da paisagem externa, e quem por ventura me observasse certamente acharia curioso o meu empenho em não deixar que nada escapasse ao meu olhar.

Palacetes suntuosos, de estilos diferentes, rodeados por imensos jardins ricamente arborizados, limitados por grades e portões decorados com requinte. Calçadas largas e regulares, a pista da avenida impecavelmente asfaltada. De repente, um espaço verde, charmoso, seguindo em elegância todo o conjunto no qual estava harmoniosamente encravado: o Trianon.

Edifícios, se bem me lembro, eram pouquíssimos. Destes, o que marcou presença no fim da década de 50 foi o imponente Conjunto Nacional, que se tornou, juntamente com o Clube Homs e o Trianon, um dos pontos de referência da avenida. Nos meus quinze anos, mas já com um profundo amor à cidade de São Paulo, aqueles momentos na Avenida Paulista me encheram de orgulho, porque eu sabia que, mais do que um simples passeio, eu estava passando em um logradouro de grande significado histórico para a sociedade paulistana, cuja grandeza estava traduzida em cada edificação.

Hoje, a Avenida Paulista tem outra aparência, e sua metamorfose acompanhou o crescimento da importância da cidade. As mansões foram, paulatinamente, dando lugar a edifícios sofisticadíssimos, que abrigam escritórios de grandes empresas, a shoppings centers, a galerias de arte. Tornou-se, pois, um centro comercial e financeiro, que se nivela em importância aos seus congêneres dos grandes paises.

Porém, mais do que mudar de aparência, a Avenida Paulista passou a ser o local eleito pelos próprios paulistanos para grandes manifestações culturais e sociais. A São Silvestre, a Parada do Orgulho Gay, os Reveillons; enfim, as grandes comemorações de massa têm lugar na Avenida Paulista.

A Avenida Paulista mudou muito. Mudou para melhor e continua fascinante. Como não amá-la? Como resistir a esse fascínio?

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