Antes da chegada da televisão ao Brasil o circo era a grande atração. Grandes famílias tradicionalmente mantinham seus circos, percorrendo o Brasil. Em geral, eram barracas de tamanho não muito grande que em sua interminável caminhada cobria o país. Havia ainda os grandes circos, com tendas enormes, abrigando três ou mais picadeiros, com espetáculo variado de malabarismo, trapézio, mágicos, palhaços, patinadores e animais amestrados. Os palhaços eram sempre a atração que abria o espetáculo.
O circo esteve presente em minha vida, desde minha mais tenra infância. Lembro-me de fotos tiradas por papai, do elefante de um circo que se instalara diante da casa onde morava ao nascer, na Rua Madre Teodora. Os palhaços de minha infância foram Arelia e Piolin. Waldemar Seyssel que se caracterizava por seu monólogo introdutório, “Como Vai, Como Vai Vai Vai”, foi o primeiro a ter um programa fixo na TV Record. O mais antigo deles, Piolin é o que mais marcou minha infância.
A família de Abelardo Pinto tinha um circo Fixo na esquina de General Olímpio da Silveira com a Rua Gabriel Monteiro da Silva, na Santa Cecília. Era um circo com um único picadeiro, com uma fachada bem colorida, camarotes circundando o picadeiro e, em toda a volta, as arquibancadas, mais conhecidas como poleiro. O chão estava sempre coberto com serragem. Pipoqueiros, vendedores de refrigerantes, doces e chocolates instalados à entrada circulavam protegidos pela lona, oferecendo seus produtos à gurizada. Papai, invariavelmente, comprava um camarote de pista, comportando cinco pessoas, papai, mamãe e os três filhos. O espetáculo variado começava sempre com Piolin e suas escadas.
Abelardo Pinto caracterizava-se por seu enorme colarinho rigidamente engomado e seus sapatos descomunais. A música ao vivo era garantida por uma furiosa, mágicos, trapezistas, malabaristas; às vezes cavalos garantiam a variedade do espetáculo. No segundo ato era apresentada uma pequena peça, quase sempre uma sátira. Piolin foi um palhaço que se destacou sempre por seus monólogos, críticos, satíricos e realistas. Desde o inicio de sua carreira, durante o período da semana de arte moderna de 1922, Piolin era reconhecido pela intelectualidade, sendo considerado o melhor palhaço brasileiro, por Sergio Milliet, Paulo Prado e Blaise Cendras.
Nossa família tirava o máximo da oportunidade de ir ao circo. Terminado o espetáculo, atravessávamos a rua e, na esquina de Albuquerque Lins com a General Olímpio da Silveira, íamos tomar o sorvete da Wiskey.
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