Os Palhaços

Minha infância foi de ficar empoleirado nas arquibancadas de madeira de circos.<br>Vi grandes palhaços, que a gente só via de cara pintada. Caso ele estivesse no normal eu jamais reconheceria, exceto Waldemar Seissel, o Arrelia, que conhecia pessoalmente.<br>Mas tinha outros, Piolim, Xixarrão, Chic-Chic, Fuzarca, Torresmo, Pimentinha e Henrique Seissel, irmão de Arrelia.<br>O circo era uma das grandes diversões que tínhamos até o final dos anos 1960. Aos poucos foi desaparecendo, porque começou a haver a escassez de terrenos na cidade que já se dizia que era a que mais crescia na América Latina.<br>O circo era também reduto de grandes artistas da música popular brasileira da época.<br>Vicente Celestino era um dos que mais usava o circo para suas apresentações. Ele que foi o único que subiu ao palco do Scala de Milão. No circo ele apresentava O Ébrio numa interpretação que já tinha feito no cinema.<br>Tonico e Tinoco também se apresentavam bastante em circos. Na Vila Olímpia foi uma loucura quando a dupla coração do Brasil de apresentou. No Itaim tinha o circo do Mazzaropi, na Rua Joaquim Floriano. Ficava por muito tempo lá, já que ele morava nas proximidades, na Rua Paes e Araújo. Vários artistas de circo ou de rádio, lá estavam sempre com casa cheia. Mazzaropi era sempre quem fechava o programa, quando não apresentando alguma peça mesclando humor e tristeza. Cantava suas músicas simplórias. Músicas que ele inventava exclusivamente para suas apresentações no circo ou na rádio Tupi aos domingos à noite. Era muito riso quando ele cantava a música que mexia com as Teresas.<br>Uma das Teresas que ficava brava era minha irmã, que foi batizada com esse nome.<br>Teresa, Teresa, Teresa. O seu olhar me faz penar. A Teresa é grossa para colocar no varal da carroça etc. Ou então improvisava uma letra qualquer, sempre usando o refrão. Catarina pitchin-naba, tá na hora de dançar, a vida é muito bela e não quero mais sonhar…<br>Acho que alguém que ouvia muito isso influenciou o compositor da música Florentina de Jesus. Florentina, Florentina, não sei se tu me ama, ou apenas me seduz. Que Tiririca gravou no inicio dos anos 1990. Tinha o mesmo perfil da música do Mazzaropi. O último circo que fui foi o Circo Garcia, talvez o mais conhecido dos circos que passaram pela cidade de São Paulo, foi em dezembro de 1980, quando seu Garcia, o proprietário do circo, apresentou o Circo de Natal, onde hoje se localiza o Parque do Povo. Foi um espetáculo inesquecível.<br>A verdade é que o circo deixou muita saudade, os artistas circenses reuniam-se na Avenida São João na esquina do Largo Paissandu. Eram dezenas de artistas de circo totalmente descaracterizados, não se sabia quem eram, a não ser se perguntados fossem. Ali eles faziam seus contatos, para os espetáculos dos finais de semana. Para que eles não mais tivessem que se reunir na rua, um salão foi alugado para os contatos. Mas não deu certo, eles acharam por bem voltar à rua, ali se sentiam melhor. Na verdade eu não entendi a deles. Cogitou-se também construir um circo efetivo num determinado local para uso de todos os circos, mas não saiu do papel. Infelizmente, pelo menos para as crianças seria uma coisa boa, porque palhaço é “ladrão de mulher”. Mas em compensação, muito amigo das crianças.<br><br>e-mail do autor: [email protected]