No ano de 1980, eu morava no bairro Paraíso, na Rua Tupinambás, e vinha do serviço. Eram 22h, desci do metrô na estação Paraíso, estava andando pelo corredor do metrô, quando de repente ao olhar para o chão vi um pacote muito bem lacrado. Peguei o pacote e o levei para casa; ao abrir o pacote, para minha surpresa, tinha cinco talões de cheque em branco do Banco do Brasil. Eram cheques ouro…
No dia seguinte levei os talões para o trabalho, já que eu ia leva-los de volta para o banco, na agência da Av. Paulista, na esquina com a Rua Augusta. Ao comentar com meus colegas que eu tinha achado os talões e que eu iria devolver para o banco começaram os comentários desonestos: “seu trouxa”, “seu burro”, “usa os talões ninguém vai descobrir que foi você”… Chegaram até a querer comprar os talões por um bom dinheiro, o dono de uma tipografia ofereceu-me mais ou menos o equivalente a cinco mil reais hoje! Eu comecei a ficar assustado com as pessoas interessadas na compra dos talões de cheque ouro. Eram todas pessoas que me pareciam honestas!
Lembrei-me do ditado “a ocasião faz o ladrão”. Falei com o meu sobrinho, que é policial, o qual me disse para entregar os talões na agência bancária e pegar um recibo do banco, afirmando que eu havia entregado os talões.
Assim foi feito, fui a agencia, falei com o gerente, e entreguei os talões. Para minha surpresa o gerente me disse que o cliente até aquela data não tinha sustados os talões de cheque perdidos, mas iria entrar em contato com o cliente. Já tinham se passado vários dias… Eu achei muito estranho uma pessoa perder vários talões em branco e não reclamar.
Enfim, eu tinha feito a minha obrigação de cidadão. O que me surpreendeu foram as pessoas que eu achava que eram honestas; estas foram as primeiras a querer ficar com os talões de cheque para levar vantagem.
Lembrei-me de um filme italiano cujo titulo era “somos todos assassinos”, e é verdade; todos nós temos a tendência de querer levar vantagem em tudo. Até quando nós somos honestos?
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