A Oficina da Palavra fica no bairro da Barra Funda. Trata-se de um local onde são ministrados cursos diversos: literatura, teatro, cinema, editoração e outros de que não tenho conhecimento. Fica exatamente na casa onde viveu e morreu o escritor paulista Mário de Andrade. Localiza-se na Rua Lopes Chaves, na esquina com a Rua Margarida, bem no quarteirão que termina na Rua Mário de Andrade. Lembrando que as Ruas Margarida e Mário de Andrade saem da Avenida Pacaembu e dirigem-se à Rua General Olímpio da Silveira.
Com a posse de Mário Covas a Oficina foi fechada. Recentemente pesquisei na internet e soube que foi reaberta há pouco tempo, embora eu não saiba se estivera fechada todo esse tempo. Importante é lembrar que tive o privilégio de freqüentá-la para a efetivação de três maravilhosos cursos, gratuitos, inclusive: o curso de crônicas com o impagável Lourenço Diaféria; curso de contos com Caio Porfírio Carneiro, que é secretário executivo da UBE – União Brasileira de Escritores – e escreveu vários livros, inclusive o famoso O Sal da Terra, traduzido para o italiano e árabe e adaptado em roteiro técnico para o cinema (só que ainda não conseguiram patrocínio para o lançamento), com quem tenho contato até hoje e foi o autor da apresentação do meu único livro de contos publicado em 2006; por fim o curso com Massao Ohno – Como editar um livro -, editor também renomado.
O Curso com Lourenço rendia muitas gargalhadas e fascínio também pela sua inteligência e criatividade. Com Caio Porfírio rendeu também muita criatividade e inspiração, além de reuniões futuras organizadas pelos alunos, em outros locais, quando o curso terminou, com a presença do grande escritor coordenando, lendo, comentando, e nos motivando a escrever mais e mais.
Durante as aulas os sons da cidade lá fora e dentro a presença de uma vivência tão importante à nossa cultura e à nossa cidade. As fotos de Mário nas paredes, a madeira no corrimão, no assoalho, nas portas, mantendo o clima de casa, e que casa tão importante!
Lembro que havia uma casa de esfihas, na Rua Margarida, quase em frente à casa. Era noite quente de sexta-feira e a música ao vivo que vinha da lanchonete era fundo musical para a emoção e o prazer de ouvir Lourenço Diaféria discursando sobre suas crônicas e histórias. Rendeu-me uma carta que escrevi a ele, perguntando se seria uma carta ou crônica e ele escreveu no texto: "É carta e crônica". No meio do fascínio ele se transformou como um artista no palco, um "palhaço" no picadeiro, despido da fantasia e da pintura externa, mas coberto de alegria por dentro e por fora.
Mas emoção maior eu tive no dia em que ele devolveu os textos que levava para ler e pediu que eu lesse para a classe um meu, bem curto, falando sobre a velhice. Todos me olharam surpresos e ele ficou todo feliz quando comentei que eu ganhara prêmio de honra ao mérito por esse texto. Viram como eu entendo? – comentou ele, todo satisfeito e risonho, sempre inspirado a tornar também o momento uma crônica. Porque o dom dele está na palavra escrita e também no discurso sempre bem humorado, além de eficiente.
A velha polêmica entre o que é conto e o que é crônica me faz entender perfeitamente que todos esses nossos textos para este site são narrativas, mas na maioria são também preciosas crônicas do nosso viver em Sampa, vocês não acham?
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