Meu tio, João Bosselo, era dono de uma grande oficina mecânica, que tinha três entradas pela Alameda Barros e três pela rua Albuquerque Lins.<br><br>Meu tio ficava o dia toda na oficina, indo de seção em seção, passando pela tapeçaria, pela pintura, pela mecânica e assim sucessivamente,<br>sempre testemunhando ou protagonizado casos pitorescos.<br><br>Certa vez, na porta da Alameda Barros, apareceu um vendedor de salgados, oferecendo o produto para os funcionários; o meu tio, que estava na porta, disse ao homem que não poderia vender ali os seus produtos.<br><br>O vendedor saiu, indo em direção à outra porta da Alameda Barros, onde encontrou de novo o meu tio, e a mesma orientação: ali não queria os salgadinhos e que ele fosse vender em outro lugar.<br><br>O meu tio desceu por dentro da oficina para a rua Albuquerque Lins.<br>E, novamente parado na porta, encontrou o vendedor. “Já disse que não pode vender neste local, isso atrapalha o serviço”, bradou.<br><br>O vendedor não agüentou e perguntou se por acaso meu tio era dono do mundo, pois estava em todos os lugares. Disse que iria mudar de bairro, pois ali não conseguiria vender nada. <br><br>Todos riram muito, incluindo os funcionários, quando meu tio contou ao vendedor sobre as várias entradas da oficina. Diante da situação, contudo, permitiu que, a partir daquele dia o vendedor, sempre às 10hs, pudesse passar por lá. Nasceu naquele dia mais uma amizade, que ficou na lembrança e vez por outra dá um aperto no coração.<br><br>e-mail do autor: [email protected]