Bairro do Pari nos anos 20. Conto como imigrantes fenah, libaneses, com seu comércio e rotina de vida, relacionavam-se com imigrantes de outras nacionalidades e brasileiros.
No bairro do Pari, na esquina da Rua Mendes Gonçalves com a Rua Silva Telles, em um grande terreno, nos idos de 1920, ficava na esquina a loja de tecidos e armarinhos de meu avô.
Nos fundos, dando para a Mendes Gonçalves, a grande casa da família, no estilo oriental, com um grande quintal, em cujo centro, por cima do poço de água, ficava um chafariz e bebedouro.
O personagem era um tal de senhor Medeiros, leiteiro do bairro, com sua carroça com vários latões de leite, que percorria o bairro, atendendo as mulheres com suas vasilhas que compravam canecas de tostões de leite.
O último cliente que o senhor Medeiros atendia era o meu avô, no final do dia, após chocalhar o leite na carroça o dia inteiro. Ele se dirigia para o quintal da casa, onde dava de beber ao seu cavalo, e fazia um lanche que minha avó lhe preparava.
O que sobrava do leite já meio azedo nos latões eram dados para minha avó, que, em troca, os entregava lavados e limpos.
No bairro, o português Medeiros comentava:
– Ah, o leite que me resta eu dou praquele turco bobo… Aqueles gajos bebem leite estragado!
O leite que sobrava minha avó e minhas tias ferviam, e dali faziam manteiga e creme, coalhada fresca e seca e quimeche, o pão de leite, que o português comia no lanche que lhe era servido.
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