O Terceiro Carnaval do Brasil

Desde os meus tempos de criança eu ouvia falar que o melhor Carnaval do Brasil era indiscutivelmente o do Rio de Janeiro. Em segundo lugar vinha o de Recife/Olinda com o seu frevo. Não sei quais eram os critérios de avaliação na época, mas acredito que o quesito era "animação".

Nesse quesito São Paulo até que não fazia feio, lembro-me de ir ao centro da cidade com meus pais e o que se via eram pessoas fantasiadas pelas ruas jogando confete e serpentina umas nas outras. Vez ou outra sentíamos aquele geladinho de lança-perfume na nuca, espirrado por algum folião mais abonado, já que era um produto caro. Bailes havia por toda parte. Blocos de carnaval podiam ser vistos nos diversos bairros. Escolas de samba mesmo, que eu me lembre, só vieram bem depois. Os desfiles eram na Avenida Tiradentes, com arquibancadas tubulares meio precárias, de onde o público acompanhava. São Paulo era ironizado pelos cariocas como o "túmulo do samba". Mas os tempos mudaram, e com ele o Carnaval.

Mas afinal, qual era o terceiro melhor Carnaval? Muitas cidades do interior reivindicavam para si o título de "o Terceiro Carnaval do Brasil", até mesmo a pequena Cafelândia, vizinha a Lins, onde eu morava. O Carnaval de rua de Lins era pobre e viciado, pois todos os anos era a Escola do Paíca quem levantava o "troféu". Além das escolas havia o "famoso côrso", onde os carros saíam em fila pelas ruas do centro, buzinando.

Um dia meu cunhado e minha irmã resolveram conhecer o tão apregoado Carnaval de Cafelândia, um dos muitos terceiros do país. Nada muito diferente do de Lins, mais animado e só. Ficamos à beira da calçada vendo o desfile, quando surgiu do meio do bloco um sujeito todo fantasiado e mascarado que parou bem na frente do meu cunhado e fez uma mímica, como se estivesse escrevendo à máquina. Em seguida passou os dedos na testa, como se estivesse limpando o suor. A mensagem era clara: "vida dura essa de escriturário". Meu cunhado, que era funcionário de carreira do Banco do Brasil, nunca soube quem era a tal figura, provavelmente algum dos muitos fazendeiros da região que iam ao BB solicitar financiamento, na Carteira Agrícola, onde meu cunhado trabalhava, e que preferiu não se identificar.

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