O santo paulista

Minha bisavó veio da Itália (Sicília), com a família, no começo do século XVIII. Seu genro, meu avô, trabalhava com gesso. Sua profissão era frentista, não o de hoje, dos postos de gasolina, mas o decorador de frentes das casas. Veio para trabalhar nos casarões da Paulista, com aqueles lindos florões e outros ornamentos. Pena que nunca me mostraram seus trabalhos que, agora, já devem estar todos destruídos. Como seu nome era Michelle, os filhos o chamavam de Michelangelo só para mexer com ele.<br><br><br>Mas, voltemos à minha bisavó. Dona Anna, parteira, como muitas que já vi descritas neste site, atendia as mulheres do Bom Retiro nesses momentos tão importantes de suas vidas. As coisas deviam ser bem difíceis na época e, profundamente religiosa, ela encontrou amparo espiritual nas pílulas do Frei Galvão, que sempre distribuía para as gestantes que estavam aos seus cuidados. Levou toda a família a essa devoção e não houve alegria ou tristeza que não fosse partilhada com o santinho, a quem todos nós sempre dirigimos pedidos e agradecimentos.<br><br>Frei Antonio de Santana Galvão nasceu em Guaratinguetá, São Paulo, em 1979 e faleceu no dia 23 de dezembro de 1822. Dedicou toda a sua vida aos pobres e aos doentes, trabalhou muito, quase sempre em atividades humildes, como bom e fiel franciscano. No Mosteiro da Luz, cuja construção se confunde com a vida do Frei, foi arquiteto, engenheiro, mestre de obras e operário. Não é à toa que é o padroeiro da Construção Civil.<br><br>É o primeiro brasileiro nato declarado santo pelo Vaticano e acho que nós, paulistanos e paulistas, católicos ou não, não temos dado a devida atenção a isso. A admiração por um homem bom, piedoso, dedicado aos que sofrem, transcende à religião. Em sua intensa vida, encontramos as qualidades que sempre atribuem aos paulistas: fé, coragem, trabalho, resiliência. Cabe a nós divulgar mais a história do nosso santo conterrâneo, um ícone nesta cidade de trabalhadores.<br><br>E-mail: [email protected]