O sabonete premiado

Dia desses, me lembrei de uma história de família que circulava no nosso meio até há pouco tempo, como exemplo do que um filho jamais deveria fazer com sua mãe, caso contrário corria o risco de perdê-la.

Nos idos anos 1950, havia uma promoção de uma marca de sabonete, premiando com um carro 0Km quem achasse uma chave, que deveria ser encontrada dentro do tal sabonete.

Havia um frenesi no bairro do Ipiranga, onde morávamos, em busca da tal chave, o que foi até bom para estimular as pessoas a lavarem as mãos e a tomarem mais banhos, pois só se achava a chave quando o sabonete já estivesse bem gasto.

Meu tio, que trabalhava numa agência de automóveis, teve a facilidade de conseguir uma chave sem uso de algum carro e como era uma criatura que perturbava, no bom sentido, todos da família, resolveu brincar com a “italianada”.

Esquentou a ponta da chave, e com toda a paciência, enfiou-a num sabonete novo, recolocando-o novamente na embalagem original, dando um jeito para que aquele sabonete fosse o próximo a ser usado pela família.

Passou uns bons dias observando todo mundo que lavava as mãos ou tomava banho, na expectativa do grande momento.

A vítima foi a nona! Tomando banho, percebeu que algo a arranhou e viu que de dentro do sabonete algo despontava. Quando descobriu a famigerada chave, quase saiu pelada do banheiro, chamou todo mundo, chorou, foi acudida, deram-lhe água com açúcar, abraçou os filhos, o marido, os vizinhos, agradeceu a sorte, até programou uma festa.

Meu tio, impávido, assistindo a tudo, teve a cara de pau de esperar até a manhã seguinte para contar tudo, impedindo meus avós de irem buscar o tão esperado carro.

Levou uns safanões, ficaram sem falar com ele algum tempo, mas, passados alguns dias acabaram rindo da safadeza e o episódio passou a integrar o folclore da família.

Quanto ao famoso sabonete, nunca se teve notícia de que tivesse havido algum ganhador do carro!

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