Agora pela manhã estava olhando pela janela da minha sala, quando encostou o caminhão de lixo na minha porta. Antes de apanhar o saco de lixo o rapaz retirou do bolso um celular, ficando uns minutos proseando. Dentro de tantas tecnologias atuais, o celular está para nós entre um dos melhores inventos da atualidade. <br><br>Trabalhei por quatro décadas na área de telecomunicações, onde o telefone fez parte do meu trabalho. O fato é que, vendo o lixeiro atender o seu celular, me veio na lembrança a minha época do telefone fixo. O único contato por telefone com familiares era feito pelo meu irmão Antonio Carlos que trabalhava em um escritório no centro de São Paulo. A Telesp, que originou-se da antiga Companhia Telefônica Brasileira (CTB), de capital canadense, na década de 1970 incorporou a Companhia de Telecomunicações do Estado de São Paulo (COTESP), empresa estadual formada para atender municípios e bairros que não dispunham até aquela época de serviço telefônico. A mesma iniciou nessa década "O plano de expansão", onde, criaria em cada bairro uma central telefônica para atender a todos os paulistanos. <br><br>O plano consistia em que os interessados se escreveriam, com promessa de entrega do telefone em 24 meses. Mamãe, às 5h, já estava na fila, lá na Rua Sete de Abril, para se escrever. E ficamos aguardando a entrega do tal telefone fixo por quase dois anos. Em um sábado, toca a campainha lá em casa, era o técnico da Telesp. Ficamos encantados, afinal, vieram instalar o telefone – lá estava a linha no canto da sala aguardando o aparelho – Informou-nos o técnico que isso seria na próxima fase. Outro sábado e aparece novamente o técnico com o aparelho debaixo do braço. Ficamos tão contentes que, se tivesse aquele tapete vermelho, estenderia para ele com todas as honras de um Chefe de Estado. <br><br>Instalou o aparelho e disse para aguardarmos a próxima fase, que a Central estava nos testes finais. E ficou lá por alguns meses, onde todos que passam por ele ficavam admirando, como se fosse um troféu "O Oscar". Finalmente, em um sábado, tocou o danado do telefone. O gato que estava dormindo no sofá (era o Lilo) deu um salto para a janela ficando todo arrepiado. Eu sai correndo do quarto e fiquei gritando para mamãe que estava no fundo do quintal lavando roupa para vir correndo atender a ligação. Finalmente, fomos informados que a partir daquele dia o telefone estava funcionando.<br><br>Todos, meio sem saber o que fazer, olhando para o aparelho e pensando: Para quem vamos ligar? – Não tínhamos lista telefônica nem um número sequer para ligar… Fomos acordar o Tota (apelido do Antonio Carlos), mas a lista de telefone que ele tinha estava no escritório. Sugeri então: vamos ligar para qualquer número e dar um trote – para que – a dona Helena já ralhou comigo dizendo que o aparelho era pra ser usado nas necessidades e que não era brinquedo, e sim, mais uma despesa que teríamos no final do mês. <br><br>À tardinha, entrando no quarto da mamãe, lá estava ela na sua máquina de costura com o pensamento longe. Quis saber o que ela estava pensando, no que me disse: “Engraçado a partir de hoje já não poderei mais escrever as minhas cartas para Maria” (sua irmã que morava no interior junto com a sua mãe), que trocavam correspondência (cartas) sem falhar sequer um único mês. Nunca mais a mamãe escreveu uma carta em sua vida. Nos dias de hoje ela estaria mandando e-mail para sua irmã. Apesar da demora para termos o telefone em casa, o progresso chegou mais rápido do que pensávamos, ou foi o tempo que voou sem percebermos.<br><br><br>E-mail: [email protected]