O pintor famoso

Nos anos 80 existia um bazar na Rua Major Diogo, Troca Tudo. Era da Maria Tereza Gregori, ela trabalhava na televisão.

Minha esposa gostava de frequentar o bazar. Trocava pirex, quadros, pratos, vasos, trocava de tudo, era muito divertido.

Eu tinha pintado um quadro, era uma mesa com umas garrafas de vinhos. Pintei mais para passar o tempo, o quadro era uma porcaria. E por gozação eu assinei o quadro (Capasso). Minha esposa levou o quadro para trocar por qualquer porcaria, e montamos o nosso cantinho no salão, esperando as pessoas para trocar.

Quando passou um senhor de uns 70 anos, ele ficou olhando o quadro por mais ou menos uns dez minutos. Perguntou o nome do pintor, porque a assinatura estava borrada, eu disse: É do Capasso. Ele arregalou os olhos e disse: É do Capasso? Quanto você quer por ele? Eu perguntei: O senhor conhece esse pintor? Ele disse que sim. A minha esposa estava morrendo de rir. Eu falei para ela: É, esse senhor é louco.

Ele veio com uma ânfora de bronze de um metro de altura, com os aros laterais, todo trabalhado, era uma peça indiana. Coisa maravilhosa. Perguntou se eu trocaria pelo quadro, eu falei: O senhor gostou tanto do quadro? Ele disse que sim, que era quadro raro.

Trocamos o quadro do pintor famoso (Capasso) pela ânfora. Ele sai todo contente com o quadro.

Depois de vários anos, um amigo viu e gostou da ânfora, eu vendi por 800 reais.

Às vezes eu fico pensando: aquele senhor que ficou com o quadro deve ter mostrado para seus familiares, será que ninguém viu que não existiu nenhum Capasso como pintor famoso?

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