O papo interrompido

Mês de agosto, mês dos pais e quero falar mais um pouco sobre meu herói, meu pai.

Não pude gozar o tempo que queria com a companhia de meu pai, ele nos deixou quando eu tinha só 26 anos. Já sonhava com os Beatles, calças jeans, viajar, cinema americano, rock’n’roll, Elvis e todos os nossos ídolos que embalavam o passar dos gloriosos anos da nossa juventude.

Senti sua partida muito cedo, ele contava só 68 anos, chorei e choro até hoje a saudade que sinto dele. Como ele era bom, justo, amava seus filhos. Por nós todos, não media sacrifícios, os nove filhos nunca corresponderam à altura daquilo que ele fez por nós. Teve sua morte antecipada por um grotesco e selvagem erro médico.

Enganado por seu próprio irmão, da forma mais imunda possível. Mas, lembrando a sua figura magnânima, e os belos textos de nossa querida Sônia, não quero lembrar meu querido pai associado com estes desejos de ódios e rancores. Deus, Misericordioso, há de amparar sua alma, guardá-lo para um dia podermos nos reencontrar e continuarmos aquele papo interrompido.

Não lembro se já contei uma passagem que me ocorreu poucos anos depois de sua partida. Morava na Rua do Gasômetro, quase em frente ao Cine Glória e em cartaz estava passando um belíssimo filme italiano, "Carrozzelo Napolitano". Eu e a Myrtes sempre fomos ao cinema juntos, mas como o Maurício e o Moacyr eram muito pequenos, ela não se importou de ficar com as crianças.

Eu queria ver o filme e o Glória sempre ficava com um durante só uma semana. Na semana seguinte, já era outro filme. Fui assistir o filme musical, até hoje muito bom, era a história de um vendedor de músicas, (não sei se em Nápoles é assim, o Natale deve saber), ele vinha numa carroça, apregoando as músicas, a maioria, napolitanas. Conforme ele dizia o nome da "canzoneta", se ouvia a canção cantada por cantores da época. Assisti extasiado ao filme, saí do Glória turbinado, meio que drogado e com a preocupação de, sem perda de tempo, na manhã seguinte, falar com meu pai e convidá-lo a assistir ao filme.

Atravessei a rua e ao chegar à porta do prédio em que morava, a triste realidade, lembrei: "Onde você vai, Modesto? Falar com seu pai? Ele morreu…". Meu pai amava estas músicas napolitanas. Tive no momento vontade de chorar, cheguei a lacrimejar… Para quem vou falar sobre o filme? Que saudade que dá, todos os dias penso nele. Ao escrever estas linhas, sinto o que senti quando saí do Glória.

Meu bom pai, Bartholomeu Laruccia, onde estiveres, ampare-nos.

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