Em 07 de fevereiro de 1942, eu nascia na Maternidade de São Paulo, na Rua Frei Caneca, no bairro da Consolação. Meu pais moravam com meus avós maternos, quase na esquina da Alameda Santos com a Rua da Consolação, onde hoje está uma loja do supermercado Pão de Açúcar.
Minha mãe, cuja diferença de idade comigo era de somente 18 anos (uma menina na época), levava-me ao Parque do Trianon, aonde brincava comigo nos balanços. Infantilmente balançava-me muito forte, fazendo com que as senhoras que lá estavam passeando, ficassem chocadas. Ela mesma contava-me depois que eu estava crescido, chamavam a sua atenção dizendo que iriam procurar saber quem eram os seus patrões e contar o que ela, a pajem, fazia com o seu filho, colocando-o em risco.
Eu sobrevivi; meus avós e meus pais mudaram-se daquela casa; eu, por imposição da avó, fui morar com eles na Vila Clementino. Lá eu brincava na rua, andava de bicicleta, de motocicleta, de carrinhos de rolimãs; cai, fui atropelado, machuquei pernas, braços, mãos, cabeça e tenho dezenas de cicatrizes, mais espirituais que ainda tenho.
Mas eu tinha ao meu lado, durante toda a jornada da vida, um inimigo terrível, que acompanha a todos nós silenciosamente; está ao nosso lado sempre maculando nossos corpos e espírito. Ele tirou-me meus avós, meus pais, meu irmão ainda jovem, alguns tios e tias; tirou-me até o que eu não poderia imaginar que um dia eu perderia: a saúde, pois eu era saudável e forte… Estudei dezenas de cursos, trabalhei durante 31 anos no meu primeiro e único emprego, mas ele, o nosso inimigo, estava junto de mim e dos demais.
Ele pegou aquele menino, transformou-o num jovem, num homem, num pai, num avô, num ancião; esse meu, nosso inimigo silencioso, implacável e frio que se chama tempo.
As suas marcas são vistas em tudo e todos, não há nada ou ninguém que não seja sua vítima; tudo fica velho rapidamente.
Até a minha querida cidade de São Paulo que parece ter sido ontem quando completava o seu 4º Centenário, hoje já é uma senhora de 456 anos, mais linda como nunca e amada como jamais, e que nesses últimos 55 anos mudou tanto que, se houvesse retroação no tempo, as pessoas de então pensariam estar em outro lugar.
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