2001. O mês de dezembro não começara bem. Mamãe, que já não tinha uma boa saúde, teve seu estado geral agravado e foi internada.
O mundo vivia sob o impacto do 11 de setembro, e aqui em São Paulo não era diferente. Todos comentavam, todos temiam, todos estavam apreensivos; o clima era pesado e o meu clima pessoal era mais pesado ainda. Eu temia pelo que viria.
Meu marido, tentando me animar um pouco, disse que me compraria de presente de Natal algo que eu havia perdido quando criança e gostava demais.
Pensei no que seria, desviando um pouco os meus pensamentos pesados na expectativa do presente, qual criança à espera do Papai Noel; funcionou um pouco e sou grata a meu marido por essa inestimável tentativa.
Minha mãe continuava internada, seu estado se agravando e o Natal se aproximando. Os médicos alertavam para a gravidade, pois seus rins estavam paralisando e seu estado geral já evoluía para uma certa confusão mental.
O espírito de Natal bem que tentava se aproximar, mas nós não conseguíamos vê-lo ou senti-lo.
Ganhei meu presente, uma linda boneca de porcelana, parecida com a que eu tive quando criança e que foi quebrada acidentalmente por uma pessoa; sempre me lembrava dela, razão pela qual meu marido resolveu promover essa volta às lembranças infantis, tentando levantar nosso astral.
Contei à minha mãe sobre o presente e, mesmo no seu estado de confusão mental, vi uma lágrima brotar de seus olhos quando lhe disse que a boneca era parecida com aquela que ela tinha me dado.
No dia seguinte ao Natal, ela entrou em coma e não voltou mais. Na véspera de ano ela se foi.
Creio que ela esteja em algum lugar bom e que de lá olha sempre que pode por nós, que sempre estivemos juntos, passando bons e maus momentos.
Cada vez que olho para a boneca de porcelana, lembranças boas e ruins povoam meus pensamentos, mas aquela lágrima no canto dos olhos de minha mãe sempre brilha quando as lembranças boas se sobrepõem.