Lá por volta de 1958, 1960, os moradores da minha rua no Bairro da Penha, inclusive meus pais, resolveram contratar os serviços de Vigilantes de rua. Eram os Guarda-Noturnos. Eles pregavam umas plaquinhas, do lado de fora da porta, nas casas que pagavam pelo serviço. Começavam a trabalhar às 22h e ficavam até as 5 da manhã.
Nós, os adolescentes, nunca entendemos bem o motivo dessa contratação. Assaltos não havia, tanto que nossas portas eram abertas pela manhã e só eram trancadas à noite, então por quê? Nós que já éramos muito vigiados durante o dia, seríamos vigiados durante a noite também. Por quê?
Naquele tempo, namorávamos no portão, embaixo da soleira da porta, procurando ficar o mais longe possível, da luz que vinha dos postes. Às vezes estávamos tão envolvidos num abraço aconchegante, trocando beijinhos apaixonados e pronto… Aparecia o Guarda Noturno com seu apito estridente, ferindo nossos ouvidos e acabando com as emoções.
Meu pai nessa época, muito enérgico e zeloso com os filhos, trancava a porta à noite e levava a chave para seu quarto.
Meu irmão Cláudio, no auge dos seu 17 anos, com os hormônios a flor da pele, tinha sempre um "compromisso inadiável". Então pedia socorro à mamãe. Ela, mui amiga, pegava a chave e colocava no quarto das meninas. Eu era encarregada de ficar acordada até a hora que ela determinava, e abrir a porta para ele. Antes do papai acordar, ela recolocava a chave no lugar. Isso deu certo por muito tempo, até que certa vez, numa daquelas noites frias, com a garoa típica de São Paulo, eu adormeci e bem quentinha "nos braços de Morfeu", não acordei para cumprir o combinado. O pobre do meu irmão ficou esperando na porta e não resistindo ao frio, resolveu entrar na casa pela varanda que ficava no andar de cima. Aí então chegou o tal guarda-noturno apitando e gritando – ladrão! Ladrão! Meus pais acordaram e os vizinhos também, foi um rebu! O Coitado do meu irmão levou a culpa de tudo, para não comprometer a mamãe e as futuras saídas de outros irmãos. Depois de um trégua, o esquema voltou a funcionar, mas meu irmão passou um bom tempo sem falar comigo.
Guarda-nuturno, Bedel, Lanterninha de cinema… Muita gente para vigiar os adolescentes da época, não acham?
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