Morava na antiga Rua do Campo, hoje Rua Canhambora, que é uma travessa da Avenida Gapira, no Bairro do Tucuruvi. Viviam em uma pequena casa: eu, minha irmã (Salete) e minha mãe; o meu pai não morava conosco desde os meus quatro anos.<br><br>Em 1973, eu tinha nove anos e havia mudado para lá logo após a separação de meus pais. Estudava no Conego João Ligabue, na Rua da Grota com a Avenida Gustavo Adolfo, bem perto donde eu morava.<br><br>Tinha muitos amigos e brincava todos os dias após sair da escola, às 11h30. Era antes do almoço, sim, porque eu tinha que cozinhar, mesmo com somente nove anos, pois minha mãe trabalhava em dois empregos e chegava, normalmente, às 22h em casa. <br><br>Naquele tempo não havia metrô e o ônibus que ela utilizava era elétrico. O ponto final do ônibus era a Rua Major Dantas Cortes, ao lado de uma padaria da qual não me recordo o nome. Mas lembro que nos dias de pagamento, eu tinha que esperar minha mãe sair das empresas, já que as ruas eram pouco iluminadas e asfaltadas, então, essa tinha um terrível medo de perder todo o dinheiro que passou o mês inteiro trabalhando para conseguir.<br><br>Acho que era por volta do mês de junho, dia de prova na escola. Percebi que no meio das aulas, começou a escurecer muito. Algo além da normalidade. Fiquei um pouco desconfiado, mas continuei a fazer minha prova.<br><br>Quando as aulas terminaram, percebi que escurecia cada vez mais e mais. E eram 11h30 da manhã! Fiquei assustado, comecei a correr cada vez mais depressa em direção à minha casa. “É o fim do mundo!”, pensava. Algo estava cobrindo o sol e o medo estava tomando conta de mim.<br><br>Comecei a gritar pelas ruas, com medo de toda aquela escuridão. Estava cada vez mais e mais escuro. Olhava para o céu e eu não via mais o sol. Comecei a chorar. “Vamos morrer, é o fim do mundo”, lamentei a mim mesmo.<br><br>No caminho, vi minha vizinha, Dona Natalina, em seu quintal. Eu, totalmente apavorado, perguntei a ela:<br>- O que está acontecendo?! Onde está o sol?!<br>- Esse deve ser o fim do mundo! Vamos, corra, vá logo para a sua casa, garoto! – respondeu D. Natalina, assustada.<br> <br>Joguei todo o meu material escolar no quintal de Natalina e corri o mais rápido que pude até minha casa. Os raios do sol voltaram a surgir com o passar dos minutos e, assim, fui me acalmando.<br><br>Minha irmã chegou em casa e eu, um tanto quanto assustado ainda, a abracei. Contei para ela o acontecido e fomos até a casa de Dona Natalina, tomamos café e recuperamos meu material.<br><br>Depois de um tempo, algum vizinho meu, que não me lembro bem quem foi, me contou que era eclipse do sol e não o fim do mundo. Ufa!<br><br>E-mail: [email protected]