Tinha eu, no ano de 1962, 19 anos incompletos quando foi incentivado por minha saudosa mãe, sua sogra Gilda e meu Padrasto a participar do programa de calouros Hora da Buzina, líder de audiência da TV naquela época, com estúdios na Rua das Palmeiras. Voltando no tempo era eu chamado de o rouxinol da Rua Eufrída, pois ficava cantarolando pelas ruas, acompanhado de um amigo que era um exímio violonista, Edgard era o seu nome. Minha voz modéstia a parte encantava os vizinhos e as pretensas sogras que viam neste rapaz direito um bom partido para as suas esperançosas e lindas filhas. Tinha eu o sonho de ser um grande astro e meu bairro, que era Santana, queria outro representante para somar aos Vips como Sergio Reis.<br> <br>Fui ao famoso programa na esperança de fazer sucesso, começando como calouro. Peguei o ônibus, aliás, vazio, pois era um sábado, desci na Praça do Correio e fui, a pé, até o bairro de Santa Cecília, passando pela poética Avenida São João a qual percorria quase que diariamente nos tempos de Office Boy da Cassio Muniz, afamada loja daqueles tempos, ia a pé para economizar, pois o dinheiro estava “contadinho” para as passagens. Eu andava sempre sem dinheiro, pois o meu salário de empregado de uma seguradora, localizada na Rua Conselheiro Crispiniano, era entregue dentro de um envelope ao meu Padrasto.<br> <br>Caminhava então pela Rua das Palmeiras antevendo uma boa apresentação, ganharia um bom prêmio, um contrato. Entrei a seguir nos bastidores, notando que tinham muitas pessoas para se apresentar, muitas câmeras, sons, a platéia gritando, as Chacretes desfilando suas plásticas e eu na fila nervoso, pois seria a primeira vez. <br> <br>Esperando para entrar, o que aconteceu, obedecendo às ordens de um produtor, o Luciano Calegari, neste instante pensei nas várias ocasiões que vim para participar e sempre eram adiadas, era aquela a minha oportunidade, pois muitas pessoas desistiram. Nesse dia pela manhã caprichei no visual para não desapontar, no meu cabelo coloquei o “Glostora” para dar um brilho, sem falar do enjoativo perfume Lancaster que tinha ganhado de uma antiga namorada, estava esperançoso, pois nos ensaios fui o melhor de todos sendo que o próprio maestro ficara encantado com a minha interpretação, estava eu impecável no meu único paletó que foi emoldurado por uma linda gravata que foi emprestada pelo meu padrasto.<br> <br>Mamãe na saída juntamente com a família me desejou muita sorte, sentia no semblante de todos que tinham a expectativa de eu ter um bom desempenho. Fui chamado pelo produtor, continuando nervoso, entrei no palco e pegando o microfone cantei uma linda canção, de um cantor desconhecido, e eis que de repente na metade dessa música o Chacrinha me mandou uma buzinada que quase estourou os meus tímpanos e só não mandei o Velho Guerreiro para aquele lugar em respeito aos expectadores, as belas Chacretes que devido as censura da época usavam meiões para cobrir as belas pernas.<br> <br>Pessoal eu fiquei desorientado, quando voltei para casa, cabisbaixo, estranhei o acontecido duvidei da lisura do programa, todos que assistiram falavam que cantei direitinho, até o Moacir Franco que estava em frente ao estúdio me elogiou.<br> <br>Não desanimei e continuei cantando em conjuntos, me apresentei na extinta<br>TV Excelsior e os produtores ficaram encantados pela minha voz, me escalaram em programas como: o Show do Meio Dia, animado pelo apresentador Hugo Santana. Tinha a facilidade, além de minha voz, de imitar com perfeição cantores famosos como: Elvis, Cauby, Dick Farnei, Agostinho dos Santos e outros.<br> <br>Atualmente morando em Joinville – SC continuo aos 68 anos, casado, com duas netas, cantando em eventos da terceira idade, porém um dia o Chacrinha me buzinou, isso nunca tirarei da lembrança. O pior foi a “gozação” do pessoal que trabalhava no escritório e dos moradores do bairro…<br><br> <br>[email protected]