Minha família é de descendentes italianos, tanto do lado materno como paterno. Como a maioria dos antigos italianos, são palmeirenses. Alguns fanáticos. Uma irmã de minha avó materna tinha até seu penico pintado de verde. Em dias de jogos do Palmeiras, ficava com o radinho de pilha grudado no ouvido, torcendo em silêncio.
No Cangaíba morava um irmão de minha avó paterna, seu nome era Luiz, conhecido como Didi, feirante, vendedor de pimentas e outros condimentos. A feira ficava na própria rua onde morava, Rua Miguel Garcia, e a barraca montada em frente à sua casa.
Nos dias em que não estava na feira, pegava sua mercadoria e vendia de porta em porta pelo bairro. Ele e seu irmão, o Neco, eram tão conhecidos que tinham uma travessa no bairro batizada em homenagem a cidade em que moravam quando chegaram da Itália, Birigui. Travessa Particular Birigui, que era a rua onde morava o Neco. Não sei por qual motivo a pequena travessa mudou de nome tempos depois.
Neco era aposentado e seu principal passatempo era recolher jogos da loteria esportiva entre os vizinhos e levar até a casa lotérica. Não ganhava nada com isso, mas passava religiosamente todas as semanas para recolher os volantes, inclusive na minha casa. Os mais antigos devem se lembrar de que naqueles tempos, anos 70/ 80, os volantes eram perfurados manualmente e o resultado conferido nos domingos no Fantástico no quadro da zebrinha.
Voltando ao Didi, palmeirense mais fanático até que aquela tia que pintava o penico de verde. Se emocionava demais assistindo ou apenas ouvindo os jogos do Palestra. No início dos anos 90 não estava bem. Idade chegou e junto com ela os problemas no coração.
No Campeonato Paulista de 1992 o Palmeiras estava bem e enfrentaria o Guarani. O jogo nem era tão importante. Primeiro x Segundo colocados. Isso não importava para o meu tio. Qualquer jogo para ele era importante. O Palmeiras era um bom time e o Guarani tinha um jovem que era uma grande promessa: Edilson, o capetinha.
18 de novembro de 1992
Para alegria do Didi, Evair marcou primeiro. Palmeiras 1 x 0, mas o Guarani empatou e Edilson virou ainda no primeiro tempo. No segundo tempo, show de bola de Edilson. Fez mais um gol e deu passe para outro e ainda teve lances geniais. Final: Guarani 5 x 2 Palmeiras.
Seu coração verde não aguentou. Resultado, infarto. Não tiveram tempo de socorrê-lo. O velório foi na sede de um time do bairro, na mesma Rua Miguel Garcia.