O cachorro fiel

Gosto muito de cachorro-quente, aquele singelo lanche feito com pão, salsicha e mostarda. É um dos meus preferidos. Dia desses, enquanto dava caprichadas mordidas num deles, fui buscar no baú da memória uma casa de São Paulo que servia o melhor cachorro-quente da cidade: Os Dois Porquinhos.<br><br>Ficava ali na Avenida São João, entre o Vale do Anhangabaú e a Rua Líbero Badaró. Acredito que só os colaboradores mais idosos do SPMC chegaram a conhecê-lo. Casa simples, limpa e, o mais importante, com algumas moedas, onde se podia saciar a fome. Era muito frequentada por estudantes, balconistas das redondezas, office-boys e bancários que não dispunham de tempo ou dinheiro para uma refeição mais completa. <br><br>Era um grande quebra-galho. Pão, salsichas, mostarda, ou outro tipo de molho, acompanhado por um refrigerante ou um chope da Antártica. Uma delícia! <br><br>As salsichas, os enormes cestos de vime com os pãezinhos e a mostarda marcaram época naquele pedaço da minha querida Avenida São João. Acho, não estou certo, que os Dois Porquinhos precederam a Salada Paulista na Avenida Ipiranga, onde também, por alguns trocados, a gente se fartava.<br><br>As duas casas já não existem, mas sobrevivem na lembrança daqueles que em tempos difíceis, quando a grana era escassa, se utilizavam dos seus prosaicos serviços para prosseguir na jornada, com as energias retemperadas, na incansável luta pela sobrevivência.<br><br>"Somente os idiotas se lamentam de envelhecer." <br>Marco Túlio Cícero, advogado, orador, filósofo estóico, senador e escritor romano, *106a.C. – 44a.C.<br><br><br>