O Bexiga e meu pai

Nasci na Rua Treze de Maio em frente ao grupo Maria José. Sou filha do falecido "Corumbá", o qual foi um dos fundadores do Bloco do Esfarrapado – Arthur Macellaro.

Minha mãe, Alaíde Turella Macellaro era a cabeleireira do antigo “Seu Barros” da Rua Conselheiro Ramalho.

Meu pai veio da Itália ,na barriga de sua mãe e morou em Corumbá (MS) até seus 14 anos, quando veio para o Bexiga. Aqui ele conheceu minha mãe na Rua Abolição. Casaram e moraram na Rua Treze de Maio por muitos anos.

Ele gostava de satirizar os períodos e personagens contemporâneos e usava o Bloco dos Esfarrapados como meio de chegar ao público com seus pensamentos. Eram cinco amigos que juntos ironizavam personagens como o Jânio, Aracy de Almeida, Xuxa, etc.

Ele deu várias reportagens para emissoras como a Tupo, Excelcior e Globo. Eles se distraiam com fantasias improvisadas e com efeitos inesperados. Reuniam-se inicialmente na Rua Manoel Dutra, na década de 30; depois vieram para a Rua Conselheiro Carrão para unir-se ao Grupo do “Armandinho”.

Contava com os amigos Esquerdinha, Giniguim e Pinguinha. No Bar do Celestino, onde comiam petiscos italianos, meu pai fazia a famosa “sardella” e uma berinjela curtida que tinham como satisfação as tardes de sábado.

Meu pai era muito sociável, gostava de verdade dos amigos… Trabalhou e se aposentou pela Prefeitura de São Paulo como agrimensor. Quebrava muitos "galhos", vendia fogos de artifício em época junina e de copa; teve a primeira TV em cores do bairro na copa de 70 (que se tem notícia), ajudou as vítimas do Joelma arrecadando medicamentos em sacos emergenciais que corremos para levar aos socorridos.

Lembro-me de suas estórias dos jogos de futebol (campinho na Japurá), de sua luta em favorecer a melhoria do bairro junto a Câmara Municipal e com o amigo Brasil Vita.

Que saudades da Carmona, braço direito da ajuda em nosso Bairro. Conheceu o Bilota Júnior, que ajudou nas promoções da Igreja Aquiropita junto com dona Rosinha e com os Vicentinos que promoviam recursos para ajudar a comunidade.

Fui boneca Eucalol e consegui levar o nome do nosso bairro para promover a comunidade que era muito pobre. A maior parte dos moradores eram filhos e descendentes de italianos artesãos recém chegados de seu país, que vieram ao Brasil para trabalhar como operários e funcionários públicos.

Éramos uma geração de novos filhos e netos de imigrantes. Vivemos o verdadeiro Bexiga dos bons tempos, onde se jogava dominó na calçada, não havia violência explicita, as amizades eram mantidas por palavras de honra, falava-se alto como se estivesse brigando como nos campeonatos de bocha.

Meu pai foi uma criatura bem participativa, mas nunca teve segundos interesses; era inocente e abriu mão de patentes que hoje priorizariam sua memória.

Por isso, presto essa homenagem a ele, que deixou lembranças boas para os que dividiram seus sentimentos em suas humildes lembranças. Todos gostavam dele! Existem muitos nomes para citar, perdoem-me; mas por hora agradeço.

E-mail: [email protected]