O ataque de riso da vovó

Minha avó paterna, Maria de Almeida Siqueira Bernardi, nasceu no interior paulista na terrinha sagrada de Ana Maria Braga e Rolando Boldrin, São Joaquim da Barra, em 1907. Casou-se com meu avô Idônio Bernardi que nasceu em Taiúva, ali perto em 1904. Depois de passarem quase 15 anos na região noroeste, Baurú, Avaí, Cafelândia e Birigui, fizeram o caminho tomado por todos que viam sua vida estagnada e sem horizontes nas pequenas cidades interioranas, a mudança para a capital, São Paulo. Já tinham tido os seis filhos dos quais quatro vingaram, como se dizia. Na ordem Moacir, Maria de Lourdes (1924), Dirceu, Ernesto (1926), Adair e Haylton. Aqueles que não conseguiram atingir o primeiro ano de vida foram Moacir e Dirceu.

A família foi se acomodando ao trabalho e aos estudos, quando o trabalho permitia isso. Os filhos foram casando e os netos nascendo. Nos passeios que os netos faziam com a vó Maria uma característica chamava muito a nossa atenção, ela não podia ver alguém escorregar e cair sem gargalhar até se acabar. Chegava a chorar de rir. Depois dizia a nós que aquilo era difícil de segurar, que era como um tique nervoso e afirmava que não era correto.

Mas o destino sempre reserva surpresas desagradáveis a todos os viventes e chegou o dia do Tombo Supremo, o tombo da vovó; nós que estávamos juntos ficamos divididos entre rir, segurar o riso e fingir que nada vimos. O medo de apanhar depois era maior. A conclusão de tudo é que sobreviveram todos ao famoso tombo, a vítima e a assistência privilegiada.

Alguns anos depois encontrei na literatura brasileira, quando cursava o ginásio, uma expressão que caia como luva para o riso da vó Maria, "rir a bandeiras despregadas", que veio de Portugal. Na época simpatizei e adotei a expressão, mas sem entender o que bandeiras pregadas ou não tinham a ver com risadas. Boas lembranças. Recordar pessoas risonhas traz muita positividade para encarar a vida. São pessoas que ficam mais indeléveis e lembradas com mais carinho e amor. “Cento mille baccios a te, nonna.”

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