O assado de Natal

Meu pai, Sr. Manuel, era muito conhecido pela facilidade em fazer amizades e pela incrível habilidade em abater porcos e cabritos na ocasião das festas de Natal, Ano Novo, Páscoa, etc. Era tão certeiro no golpe que não dava nem tempo do bicho dar um grito.<br><br>Na década de 50 não era como hoje, que compramos os animais já limpos e temperados no supermercado. As pessoas compravam em pé, como diziam, cuidava no quintal até a véspera, abatia, temperava e levava pra assar no forno da padaria mais próxima.<br><br>E lá ia meu pai atender ao chamado dos vizinhos, e em cada casa que ia tomava o vinho e os aperitivos que lhe ofereciam. Depois, já bem alegrão, andava na rua pra cima e pra baixo com o facão pingando sangue; era hilário.<br><br>Certa vez, meu pai comprou uma cabritinha pra assar no Natal e eu, bem garoto, gostava de levar a bichinha pra pastar num campinho próximo de casa. Um dia, levando a cabrita amarrada numa cordinha fraca, ela escapou. Que desespero! Corria atrás dela gritando feito louco:<br>-Pára aí, pára aí, desgraçada!!!<br>O pessoal da rua ria do meu jeito, até que consegui segurá-la pelo rabicó; então, quem gritava era ela. Beeee, beeee…<br><br>Contei essa historia a meu pai anos depois, mas quase que ficamos sem o assado naquele Natal. É como sempre digo: não era melhor nem pior que os dias de hoje, mas era bom demais.<br><br>e-mail do autor: [email protected]