Nossa Primeira Geladeira

Eram anos difíceis. Meu pai, licenciado por motivo de doença, ganhava muito pouco. Minha mãe era costureira e reforçava o mísero orçamento da família. Éramos três filhos, todos menores de idade. Freqüentava o grupo escolar Miss Brownne, situado a Avenida Pompéia, zona oeste de São Paulo.

Desde a primeira série, minha mãe costurava para minhas professoras. Dona Odulia, na primeira, Dona Branca na segunda série. Como eu era um garoto comportado, Dona Branca me convidava para brincar com seus filhos em sua casa, próximo ao Parque da Água Branca.

Um dia, vi encostado em sua garagem, um móvel branco com um dos pés apodrecido. Dona Branca, percebendo minha curiosidade, explicou-me que se tratava de uma geladeira, e, que se eu a quisesse, poderia levá-la. Falei com meus pais e, aproveitando uma camionete de um amigo, fomos buscá-la.

Meu pai consertou o pé apodrecido. De que maneira funcionava? Na frente, havia uma porta do compartimento para alimentos. Em cima, uma porta sobre um compartimento de chapa, em que se colocava uma pedra de gelo (melhor dizendo, um quarto de pedra), que, diariamente, nos era fornecida. Em baixo, era colocada uma bacia para recolher a água que descia por um caninho.

Acredito que o preço não era muito caro; do contrário, não caberia no orçamento doméstico. Essa foi a nossa primeira geladeira.

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