Nos tempos do seu Fon-Fon, 1967

"O seu Fon-Fon chegou
O seu Fon-Fon chegou
Mudou, mudou, mudou…
E agora prá que lado eu vou?"
Esse era o refrão da música composta pelo Juca Chaves "em homenagem" ao personagem que apresento a seguir e que muitos certamente se lembrarão.
Em 1967 o governador biônico de São Paulo, Abreu Sodré, trouxe do Rio de Janeiro o coronel da reserva Américo Fontenelle para dirigir o trânsito de São Paulo. Talvez amparado pela sua patente e por estarmos em pleno regime militar, Fontenelle meteu os pés pelas mãos e em poucos meses infernizou a vida da população.
Sem o mínimo planejamento, inverteu mãos de direção, criou bolsões de estacionamento na região central e quem fosse apanhado estacionado fora deles tinha os pneus do carro esvaziados por ele em pessoa, ou em parceria com o seu filho, ainda garoto. Mas a sua "grande obra" foi mesmo a desativação da Rodoviária Júlio Prestes, para ele a principal causa dos problemas de trânsito da Capital.
Com a desativação, os ônibus foram remanejados para 4 pontos diferentes da cidade conforme a rodovia que utilizavam. As empresas que vinham pela Anhangüera faziam ponto na Lapa, nas ruas Gomes Freire e Domingos Rodrigues. Em Pinheiros, na rua Paes Leme, chegavam as empresas vindas do Sul. A rua Costa Aguiar , no Ipiranga recebia os passageiros da Baixada Santista e no bairro da Ponte Pequena chegavam as empresas que utilizavam a Dutra e a Fernão Dias.
As agências de venda de passagem ficavam na rua, em casinhas de madeira iguais a dos fiscais de ônibus urbanos ou então dentro de bares. Algumas empresas tiveram que alugar casas nessas ruas. Não havia nenhuma infra-estrutura para atender as necessidades fisiológicas dos passageiros.
Se o infeliz passageiro estivesse em trânsito por São Paulo ficava perdido ao ter que se deslocar de um "terminal" a outro para continuar a viagem. Não havia nenhum tipo de integração entre eles. Tinha que ser tudo na base do "busão".
Eu mesmo passei uma vez por esse dissabor quando retornei com a minha mãe de Londrina-PR. O motorista do ônibus ficou mais de meia hora perambulando pelas ruas de Pinheiros até achar o ponto de parada.
Durou apenas três meses essa terrível experiência. O coronel colecionou desafetos na política, acabou sendo demitido e a Rodoviária voltou ao seu devido lugar, onde permaneceu até 1982.
No mesmo ano o coronel sofreu um enfarte fulminante em um programa ao vivo da TV Globo, onde estava sendo entrevistado fazendo sérias acusações ao então governador Abreu Sodré.

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