No templo budista

Final dos anos 70. Sempre à procura de algum conhecimento, minha amiga Ana Isabel e eu fomos a um templo budista, na Rua São Joaquim. Sabíamos do mesmo por informações do meu grande professor de História Heródoto Barbeiro. Então, num sábado à noite, sem ter nada de mais importante para fazer, tomamos o ônibus a partir do Cambuci e lá chegamos. Não sabíamos nada do templo, muito menos da teoria humanista de Sidartha Gautama. Pura curiosidade de gente jovem, que quer saber de tudo um pouco.

Obviamente não sabíamos nos comportar. Com muita timidez e com um olhar meio safado – o que será que vai acontecer? -, fomos recebidas pelo monge japonês. Mais algumas pessoas já estavam por ali e entramos na sala do templo. Incenso aceso, tudo escuro, a grande imagem do Buda como foco principal e tivemos que nos sentar, pela primeira vez, na posição de Lótus. E agora? Todos muito bem sentados, entrando em estado de meditação… e nós ali, sem a mínima ideia do que fazer. Em círculos voltado para Buda, passava por trás de nós o monge e, quando percebia que nós duas não aguentávamos de vontade de rir, ele, de maneira austera, só dizia: "concentração." Mas dizia em maiúsculo mesmo, não dando oportunidade para outros pensamentos. E não tinha jeito: já estava dando desespero pela vontade de rir e não poder.

E o tempo não passava. Ficamos ali uma hora nessa posição. De canto de olho eu observava uma moça ao meu lado. A vizinha estava toda zen, em outro mundo, quem sabe se resolvendo, fazendo a sua evolução espiritual, mas nós duas, na época, nem sabíamos o que era meditar, ascender, desmembrar.

Teve um momento em que eu não suportava mais a posição de Lótus e coloquei a mão por dentro da barra da calça para poder segurar a perna… pelo menos isso, mas doía tudo. Uma hora nessa situação e dá-lhe cheiro de incenso.

Terminada a sessão, fomos encaminhadas para a sala do chá com uma bolachinha de água. Mas a questão é que as minhas pernas estavam em estado de má circulação, quer dizer, as minhas pernas "dormiram" e eu mal conseguia andar enquanto todos caminhavam com muita tranquilidade. Eu nem olhava para a Ana e vice-versa, até porque ela sempre gostou de dar sonoras risadas por qualquer coisa.

Quando ganhamos a rua, a Liberdade inteira era pouca para tantas gargalhadas e comentários sobre a nossa vã esperança de entender alguma coisa. Pela primeira vez pude rir muito, mas muito mesmo da nossa santa ignorância. Já ouvi dizer que "com Buda a coisa muda", mas para nós não mudou: continuamos ignorantes, curiosas, divertidas e sempre à procura.

Que Buda nos perdoe.

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