No Sebo do Messias

Uma recepção belíssima, amável e o máximo de simpatia aconteceu no Sebo do Messias nessa minha última ida a São Paulo, em dezembro último. Saindo da Padaria Santa Tereza, onde fomos muito bem atendidos, meu filho e eu entramos, bem ao lado, ali na Praça João Mendes, no Sebo do Messias.
No mesanino, um rapaz, jovem ainda, de aparência simples tocando violino, recebendo os clientes da loja como se fossem convidados esperados com afeto. E o rapaz tocava bem, com muita dedicação, exalando suavidade e beleza.
Confesso que me emocionei e muito em função do inesperado.
Com mais facilidade começamos a transitar pelos corredores da loja. Um livro bom aqui, outro ali, as revistas convidando ao deleite de uma boa leitura. Parece até que as páginas estavam recheadas de saudades, de afeto e de boas conversas.
Entrando na sessão musical, fui rapidamente procurar um vinil contendo músicas executadas pelo nosso Pedrinho Mattar, que tem a cara de São Paulo, e de Santos também – sobretudo do Embaré. Encontrei ali, cada um por 1 real… Trouxe os dois únicos exemplares que oferecem a maravilha do Brasileirinho, do Tico-Tico no Fubá, do Apanhei-te Cavaquinho, da Travessia que, aliás, nunca havia ouvido música tão magistralmente executada. Guardei intacto o plástico da loja que envolveu os discos – um saco plástico amarelo.
Hoje ouço esses discos com muita freqüência. O som vai ecoando pelo meu apartamento enquanto vou cuidando da vida, das plantas, das provas e apostilas do meu centenário colégio jesuíta, onde leciono há 21 anos. Tudo fica mais macio, acolhedor, incrivelmente humano ouvindo o Pedrinho… E lembrando do centro de São Paulo, a catedral com tantas histórias e sua escadaria belíssima, palco de tantas manifestações culturais e sociais, como a volta pela democracia, por exemplo, a padaria Santa Tereza, o Bixiga, a Liberdade… O Sebo do Messias, lembrando de toda a São Paulo que se oferece para uma alma apaixonada, pois, parafraseando Drummond, o paulista pode sair de São Paulo, mas São Paulo não sai de dentro do paulista. Ah, não sai mesmo.

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