Natal da castanha portuguesa numa casa itahyense afro-brasileira

As festas natalinas nos fazem relembrar de coisas boas e não tão boas. São recordações…, são emocionais.<br>Recordo do leitãozinho que minha avó dona Francisca trazia de ônibus, Viação Anhanguera, carinhosamente temperado lá da cidade de Itu – SP, para ser assado no grande forno da padaria do bairro do Itaim Bibi, na esquina da Rua Clodomiro Amazonas com a Joaquim Floriano.<br>Quem orgulhosamente o levava para pururucar e ia buscar era o meu pai, sempre um dia antes, após marcar a hora na lista enorme de reservas de espaço no quentíssimo forno a lenha. Antes disso, o delicioso e enfeitado suíno ficava esperando a sua vez na geladeira do estabelecimento. Era uma das iguarias consumidas na grande Ceia de Natal dos Pádua.<br>Outra coisa que não podia faltar na estendida mesa coberta de linho bem alvo era a funda bandeja com Castanha Portuguesa. O velho Orestes tinha uma predileção especial por esse tubérculo lusitano. Mesmo de preço alto, e põe dindin nisso, ainda mais naqueles tempos, a minha mãe, dona Benedita, fazia questão de ir reservando uns tostões para que no Natal não faltassem as cozidas castanhas marrons e de massa acinzentadas. Para um melhor cozimento tinha-se que dar um pequeno corte em uma das suas extremidades.<br>Ele, o velho Orestes, as saboreava com orgulho de um responsável chefe de um clã afro-brasileiro, unido em torno da estendida mesa da cozinha e cheia das comilanças típicas e outras não tão nativas. Bebia-se champanhe.<br>Mas nem todos os natais foram assim tão fartos. Lembro-me de um bem triste, choroso até. É que o meu pai, funcionário público federal e na época dependente da vontade e verba da nem sempre planejada administração do INSS de então, o IAPB, acreditou que iria ter em dezembro o seu dinheirinho a mais.<br>Naquele ano prometeu-se aos funcionários um tal de 13º salário, novidade na época e de início quase rigorosamente cumprido pelas empresas particulares, mas não por muitas e muitas instituições oficiais.<br>O meu pai esperou, esperou, esperou o dinheiro que não veio. Lembro de vê-lo chegando do serviço, cada vez mais triste, conversando com a minha mãe e fazendo as contas.<br>A minha tia dona Gula (Urgulina), como sempre, deu um jeito.<br>Passou uns dois dias passando e engomando as roupas da casa dos Couto de Magalhães e da família do senhor Brandão, o farmacêutico. Assim ganhou um dinheirinho extra e contribuiu para engrossar generosamente aquele nosso Natal. As castanhas e outras comidas mais simples ganharam um sabor todo especial, o sabor da união familiar.<br>A benção Pai Orestes. A benção Mãe Benedita.<br>Beijos carinhosos Avó Francisca. Obrigado, de coração, Tia Gula.<br>Que o Menino Jesus continue lançando seu olhar de proteção para as continuadores da família Pádua. Minhas filhas Arethuza e Paloma.<br><br>e-mail do autor: [email protected]