Tomar chuva, andando pela enxurrada descendo a Rua Dona Veridiana e tentando chegar a Rua das Palmeiras onde morávamos, foi nossa gostosa transgressão. Aquele mau tempo que não melhorava nos obrigou a ir para casa na chuva mesmo. Saindo da faculdade de filosofia da Maria Antonia um quarteirão já foi suficiente para nos deixar molhadas, com a roupa grudada no corpo e o cabelo escorrendo.
Já que estávamos molhadas mesmo, a Maria Rosa e eu resolvemos que a forte enxurrada da Rua Dona Veridiana precisava ser aproveitada e lá fomos nós.
Não éramos mais crianças, já universitárias, na casa dos 20 anos, não pensamos duas vezes tiramos as sandálias e entramos na enxurrada que ladeava as calçadas e olha que estávamos de saia, já que não se ia à faculdade de calça comprida.
Que sensação gostosa de dona dos nossos narizes, sem dar bola para senhoras de capa e guarda chuva que nos olhavam com ar de reprovação, o banho estava muito bom… Só tomamos consciência da situação, quando chegamos ao nosso prédio um dos poucos prédios luxuosos da Rua das Palmeiras cujos moradores tinham feito à suprema concessão de nos aceitar como inquilinas e vimos à cara de espanto do porteiro, que por pouco não nos impediu de entrar.
Enfim entramos deixando um rasto de água por todo o hall de entrada até o elevador e molhando ainda o tapete impecável do próprio. Por muito tempo pensamos em repetir a façanha, faltou oportunidade, mas passados mais de 40 anos, ainda rimos quando lembramos do banho de enxurrada…
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