Ele apareceu na minha turma em julho de 1965. Natural de Curitiba, passava férias com a família em São Paulo e começou a andar com a nossa turminha de rapazes e garotas mal saídos da adolescência. Não era bonito, tinha um certo charme, um pouco mais velho que os outros rapazes, mas se vestia mal, com roupas fora de moda, e para mim, aos quatorze anos, roupa da moda era essencial.
Claudinei começou a se aproximar de mim e, em uma tarde, depois de um passeio no Parque da Aclimação, me pediu em namoro. Ele tinha dezessete para dezoito anos, parecia velho aos meus olhos, e o pedido de namoro me assustou um pouco, pois era bem novinha e nunca havia tido um namoradinho que fosse. No entanto, a atenção que ele me dava me proporcionava algum status na turma, e por isso comecei um namorinho tímido e sem graça, sem muito interesse, pois não gostava nadinha dele.
Claudinei, no entanto, estava apaixonadíssimo por mim. Trazia presentinhos, era um cavalheiro perfeito, me tratando como a uma princesa. E quanto mais ele me tratava bem, mais eu o tratava mal. Ria dele por trás com minhas amigas, marcava encontros aos quais não ia. Uma vez o deixei plantado na porta do cinema, passando de carro com várias meninas para vê-lo esperando por mim.
E ele continuava sendo amigo e carinhoso comigo.
Finalmente chegou o dia em que ele deveria voltar para Curitiba e percebi que a despedida foi triste para ele. De lá me escrevia longas cartas, as quais eu respondia apressada ou deixava de responder. Finalmente escrevi terminando o namoro, que, para falar a verdade, para mim nunca fora nada importante. Recebi uma última carta dele, e depois nunca mais.
Aos 24 anos fui para a Inglaterra estudar inglês. A escola ficava na St. Johns Wood, a mesma rua do studio dos Beatles. Era um lugar lindo e bastante frequentado por brasileiros.
No terceiro dia que apareci na escola, levei o maior susto da vida, pois lá estava o Claudinei, um homem de 28 anos, impecavelmente vestido (quando isso não era mais importante para mim), as mesmas feições agora em adulto, que o tornaram um homem muito charmoso e interessante. Bonito de chamar a atenção, tudo nele mostrava confiança própria, falando um inglês perfeito e rápido (quando o meu ainda era terrível) com os alunos de outros países. Percebi que era popular e conhecia Londres muito bem. Tinha se formado em não sei o quê, fazia pós-graduação na Europa.
Reconheceu-me vagamente. Perguntou se eu era “aquela Lygia”, respondi que era sim. Conversamos um pouquinho, mas não demorou muito e ele foi conversar com outra pessoa. Pouco depois, me apresentou uma mulher belíssima, sua esposa.
Ah, como a vida ensina a gente… Quase bati a cabeça na parede.
e-mail do autor: [email protected]