Marmitas

Aproveitando o gancho sobre o assunto das marmitas no texto escrito pelo Nelson Assis, acrescentaria que a marmita do papai era embrulhada com o papel de pão ou então com jornal velho trazido por ele lá da Vigor. A borracha que amarrava era de uma câmera de ar de pneu velho, bem grossa e difícil de soltar. Quando eu acordava mais cedo para o trabalho, ia até a Rua Tuiuti apanhar o meu ônibus no ponto inicial, para poder ir sentado (esse ponto ficava em frente ao Colégio Espírito Santo). Quantas e quantas marmitas eu levei no colo, gentileza minha para quem estava em pé. Algumas ainda quentes, era terrível ficar com elas no colo (tinha que bancar o malabarista, sem chamar a atenção).

Eles vinham de Osasco, de trem, e desciam na Estação Júlio Prestes, no Centro de “Sampa”. Quatro adolescentes na idade entre 16 e 17 anos, onde os hormônios da bagunça afloravam em cada um. O Macalé, Wilson, Mane Português e o Claudio. Eram técnicos em máquinas de Telex, trabalhando conosco lá na Rua XV d e Novembro. Apesar de termos nosso restaurante no prédio, eles levavam sua marmita, visto trabalharem externamente para atendimento das máquinas em nossas agencias. Faziam um revezamento, visto que ao atender as agências no centro dava tempo de almoçar em nosso restaurante.

Todos os dias tinham uma novidade para contar sobre algo ocorrido dentro do vagão. Estava o Macalé distraído com sua marmita embaixo do braço, quando o Mane Português puxou seu braço e a marmita foi para o chão. Ao cair, ela abriu se e a única mistura que era um ovo cozido rolou pelo chão do vagão. Ele todo atrapalhado e de cócoras, abrindo passagem entre os passageiros atrás do seu sustento. "A te peguei seu infeliz". Sem dar a mínima aos que estavam em seu redor, limpou o ovo na camisa e colocou novamente na marmita. Para os médicos de hoje o ovo ficou carregado de anticorpos. Estão servidos?

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